A obra do artista Flávio de Carvalho (1899-1973) estará em exposição, de 17 de agosto a 19 de outubro, na Galeria Almeida e Dale, em São Paulo.
Com curadoria de Kiki Mazzucchelli, a mostra foi originalmente apresentada na Sotheby's S2 Gallery, em Londres, em abril deste ano, sendo a primeira exposição individual dedicada a Flávio de Carvalho no Reino Unido, país onde viveu de 1914 a 1922.
A seleção de obras oferece um panorama da trajetória multidisciplinar de Flávio de Carvalho, cobrindo cinco décadas de sua produção.
Cerca de 50 trabalhos, entre desenhos, pinturas, ilustrações, materiais de arquivo e documentação dos projetos imateriais do artista, representam sua diversidade de meios de expressão e sua inestimável contribuição para a ampliação das possibilidades do fazer artístico.
Entre os destaques, está o conjunto de retratos de alguns nomes significativos que acompanharam Carvalho em sua trajetória artística, formado por pinturas e desenhos cujas linhas expressivas que visam a capturar o estado psicológico de seus modelos.
Também chamam atenção os projetos arquitetônicos apresentados pelo artista em concursos nacionais e internacionais.
Considerado um dos pioneiros da arquitetura moderna no Brasil, Carvalho, em seus projetos, combinava uma linguagem futurística a elementos alegóricos e decorativos, evidenciando seu interesse por temas ligados à etnologia, à psicanálise e à antropofagia.
"Flávio de Carvalho é uma das figuras mais interessantes da vanguarda brasileira do século XX. Seus projetos de cunho conceitual atestam seu extraordinário feito de expandir o campo da arte para além de territórios e formas conhecidos, ampliando assim a própria definição daquilo que pode ser considerado arte", comenta Kiki.
Em 1931, Flávio de Carvalho realizou sua primeira intervenção no espaço público; a Experiência n.2, na qual caminhou contra o fluxo de uma procissão de Corpus Christi nas ruas do centro de São Paulo, o que, talvez, seja o primeiro registro de uma performance no Brasil.
Em 1956, quase aos 60 anos de idade, o artista desfilou pelas ruas de São Paulo vestindo um blusão bufante, uma saia plissada e sandálias, um traje projetado, segundo ele, para servir como alternativa ao padrão do terno e gravata e libertar o homem tropical do desconforto causado por estilos de moda importados da Europa.
Acompanhado por uma extensa cobertura de imprensa organizada por ele próprio e que pode ser observada em algumas das fotografias presentes nesta exposição, Flávio de Carvalho batizou a obra de New Look (Experiência n.3).
As vantagens funcionais da vestimenta foram impressas em um anúncio criado pelo artista, trazendo afirmações mais razoáveis como sua capacidade de minimizar a transpiração excessiva até alegações mais inverossímeis, como sua virtude de evitar guerras devido ao uso de "cores vivas (que) substituem desejos de agressão".
Segundo a curadora KiKi Mazzucchelli, "a obra é um projeto exemplar de Carvalho, na medida em que combina o experimentalismo utópico a uma abordagem calcada no racionalismo, metodologia que utilizou em várias ocasiões para desmistificar as crenças e convenções dominantes.".
O "revolucionário romântico" ou o "antropófago ideal"
Cunhado por Le Corbusier após um encontro com Carvalho em 1929, para definir sua prática artística visionária e multimodal, o primeiro termo é o mais usado por críticos, mas, talvez, seja insuficiente para capturar o caráter idealista e inventivo do conjunto de sua obra.
A segunda definição, supostamente creditada a Oswald de Andrade, autor do reconhecido "Manifesto Antropofágico" (1928), pode revelar mais sobre sua prática.
Segundo o biógrafo J. Toledo, em Flávio de Carvalho: o comedor de emoções, Oswald de Andrade assim o exaltou em 1930, à época do IV Congresso Panamericano de Arquitetura, no Rio de Janeiro.
Na ocasião, Flávio de Carvalho apresentou um ensaio intitulado A cidade do homem nu, seu plano diretor para uma nova metrópole nos trópicos que seria destituída de Deus, propriedade e casamento, numa proposição extremamente ousada em um contexto cultural ultraconservador.
Pintor, escultor, arquiteto, cenógrafo, designer, jornalista, escritor e dramaturgo, Flávio de Carvalho nasceu no Rio de Janeiro, em 1899. Reconhecido por investigações de vanguarda na arte performática, Carvalho usou seus muitos talentos e formas excêntricas e irreverentes de expressão para chocar a burguesia.
Inovou ao adotar novas mídias, destacando-se por suas inovações no campo do teatro e suas performances artísticas, abrindo caminho para as novas tendências que se desenvolveram no Brasil a partir dos anos 1960.
Aclamado na Europa Ocidental, na URSS e nos Estados Unidos, seus retratos expressionistas de personalidades estão em acervos de importantes museus em Nova York, Paris, Roma, Moscou, além de São Paulo e Rio de Janeiro.
Apesar de ter recebido atenção significativa da mídia ao longo de sua carreira, a obra de Carvalho constantemente se chocou com o conservadorismo dominante, em uma época em que não havia museus dedicados à arte moderna no país (o primeiro deles, o MASP, foi fundado apenas em 1947).
Assim, materiais de arquivo e de documentação relevantes para a reconstrução de sua trajetória artística acabaram sendo dispersados em diferentes coleções públicas e privadas.
A exposição apresentada na Almeida & Dale visa contribuir para a contextualização e reavaliação da obra de Flávio de Carvalho, e será acompanhada de um catálogo contendo textos inéditos que abordam temas significativos para uma melhor compreensão de seu papel fundamental na historiografia da arte brasileira.
Local: Galeria Almeida e Dale
Endereço: Rua Caconde, 152 | Jardim Paulista – São Paulo
Abertura: sábado, 17 de agosto, das 10h às 14h
Período expositivo: de 17 de agosto a 19 de outubro
Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 19h
Telefone: 11 3882-7120
Entrada gratuita