
GALERIA RESPIRO, EM QUELUZ, INAUGURA MOSTRA DE JOÃO MACHADO
Em “Terrafias - Práticas regenerativas e processos estéticos”, o artista conhecido por suas obras interespécies apresenta trabalhos inéditos que unem arte e recuperação do solo, com a participação de pássaros, abelhas e micro-organismos.
Com curadoria de Guilherme Pinheiro, mostra no espaço expositivo do projeto Respiro Rural da Fazenda Santa Vitória, abre no dia 5 de abril e vai até 2 de agosto, na Serra da Mantiqueira
A Galeria Respiro, espaço expositivo rural, localizado na Fazenda Santa Vitória, em Queluz, apresenta a exposição “Terrafias - Práticas regenerativas e processos estéticos”, de João Machado. Na mostra, o artista conhecido por suas obras interespécies, num trabalho criativo que se mistura ao ativismo em proteção das abelhas nativas brasileiras, expande seu fazer artístico para a regeneração da terra. Resgatando saberes e técnicas ancestrais de melhoramento de solo e reflorestamento, João Machado apresenta objetos, trabalhos sonoros, gravuras, desenhos e registros em vídeo de obras vivas, num trabalho tanto artístico como científico de grande carga poética. Com curadoria de Guilherme Pinheiro, a exposição pode ser visitada de 5 de abril a 2 de agosto, com entrada franca.
A arte interespécies de João Machado é vinculada ao processo de criar vida, de polinizar e semear. Nessa exposição suas obras acontecem em simbiose com plantas, pássaros, abelhas, fungos e micro-organismos. Terrafias é uma palavra criada pelo artista na junção de Terra + Rafias, algo como sutura da terra. Entre os destaques está Rafias, o registro em vídeo de uma obra que acontece em áreas muito inclinadas e extremamente degradadas, já em processo de desertificação, com fissuras profundas, onde o artista insere “curativos” feitos de semente, esterco, folhas secas e gaze hospitalar, presos por estruturas de bambu. “É esse local onde já não nasce nada, onde as patas do gado comprimiram a terra e a chuva criou valas e voçorocas que me interessa”, revela o artista. “As obras de João são catalisadores artificiais de regeneração, elaboradas delicadamente por ele em sua ampla experiência e estudo científico-botânico. Trata-se de uma percepção reversa que começou com o estudo das plantas, passou pelo estudo das abelhas e, hoje, fecha um arco criativo-ecológico em Terrafias”, explica o curador.
Entre os objetos inéditos destacam-se os poéticos Poleiros, criados para serem instalados em campos onde não há mais árvores, potencializando o trabalho dos pássaros para a recuperação da mata – uma maneira simples e econômica de regenerar a terra. Ou os engenhosos Coletores, invólucros de argila, onde o artista coloca um punhado de arroz cozido embebido em gaze. O objeto é deixado no chão de uma floresta, permitindo que os fungos locais trabalhem em seu interior. Após alguns dias, a gaze é transportada para o local a ser replantado, completando a obra. Uma vez recuperada a mata, surge a necessidade de polinização, entrando então o trabalho das abelhas. A série Arquiteturas para Abelhas Nativas traz construções de cerâmica que servem de morada para esses insetos, polinizadores por natureza. Uma vez no mundo das abelhas, encontramos Pitos, série de desenhos em própolis, de 34 X 26 cm, que reproduzem as entradas das colmeias, revelando formas uniformes, feitas espontaneamente pelas abelhas. “Assim como o trabalho de Cildo Meireles, as obras de João Machado precisam ir a campo para se materializarem”, diz o curador.
Outro trabalho inédito da mostra é Partituras Paisagens, uma obra sonora. Aqui, imagens de silhuetas de montanhas da Serra da Mantiqueira e de um tronco de árvore escavado por cupins foram sobrepostas a um pentagrama musical, criando partituras tocadas de forma fidedigna pela flautista Ariane Rodrigues. “Fomos condicionados a enxergar as paisagens e os seres que vivem nelas como mercadorias a serem exploradas. O trabalho do João pode ser visto também como um exercício de nos relacionarmos com esses territórios de outras maneiras, usando nossa criatividade para criar afetos e conexões”, conclui o curador.
SOBRE A RESPIRO
Localizada ao pé da Serra da Mantiqueira, próxima ao Parque Nacional do Itatiaia, a Respiro nasceu com o desejo de introduzir a arte contemporânea no ambiente rural. Instalado dentro da Fazenda Santa Vitória, no município de Queluz, interior de São Paulo, o projeto começou em 2022, com a promoção de residências artísticas para artistas mulheres, oferecendo um ambiente de imersão criativa na natureza. Convidadas a participar, as artistas elaboram projetos de obras ao ar livre a serem expostas de forma permanente no local, recebendo comissão para construir suas criações. Finalizados, os trabalhos passam a integrar o circuito de arte local, que hoje contempla cinco obras abertas à visitação do público, de forma gratuita. Em, 2023 numa expansão do projeto, a Respiro inaugurou sua galeria, um espaço expositivo que ocupa uma antiga escola rural desativada e reformada, que funciona também como oficina pedagógica para a população local, numa parceria com a Prefeitura do Município. A Fazenda Santa Vitória é um patrimônio histórico, exemplo da arquitetura rural do século XIX, remanescente do ciclo do café do Vale do Paraíba. Dotada de instalações de hotel, a fazenda oferece também hospitalidade rural em plena Mata Atlântica, numa das maiores províncias de água mineral do mundo, com milhares de nascentes que abastecem o Sudeste do Brasil.
SERVIÇO
Exposição de arte contemporânea
Título: Terrafias - Práticas regenerativas e processos estéticos
Artista: João Machado
Curador: Guilherme Pinheiro
Abertura: 5 de abril, às 10h
Período expositivo: de 5 de abril a 2 de agosto de 2025
Local: Galeria Respiro
Visitação: de sexta a sábado, das 10h às 17h, ou com agendamento prévio
Tel: 21-971291027
E-mail: contato@respirorural.
Instagram @respiro.rural
Endereço: Fazenda Santa Vitória - Rod. João Batista Melo Souza, km 5 - Queluz, SP
Entrada gratuita