"Onde há Fumaça: Arte e Emergência Climática" — Exposição no Museu do Ipiranga Explora o Impacto Ambiental e Social no Brasil
O Museu do Ipiranga, em São Paulo, acaba de inaugurar a exposição “Onde há fumaça: arte e emergência climática”, uma reflexão profunda sobre as consequências ambientais e sociais do desenvolvimento no Brasil. Curada por Vítor Lagoeiro e o coletivo Micrópolis, a mostra reúne peças do acervo histórico do museu e obras contemporâneas para ilustrar a complexidade da nossa relação com o meio ambiente e os efeitos duradouros das escolhas de progresso.
Arte e Emergência Climática: Um Chamado à Reflexão
A exposição propõe um diálogo entre a história e a atualidade, evidenciando como o modelo de progresso adotado ao longo dos anos tem contribuído para a degradação ambiental. A curadoria foca em como o acervo do museu, com obras do século 20 que romantizam a ocupação e transformação do território brasileiro, pode ser reinterpretado à luz das crises climáticas que vivemos atualmente.
“Muito do que temos no museu são imagens que celebram uma ocupação do território baseada no latifúndio, trabalho escravo e monocultura. São três pilares que ajudaram a instaurar a degradação ambiental no Brasil,” afirma o curador Vítor Lagoeiro.
A Releitura de "Independência ou Morte" — Um Símbolo de Reflexão
A obra mais icônica da exposição é “Independência e Morte”, de Jaime Lauriano, uma releitura da célebre pintura "Independência ou Morte" de Pedro Américo. Na versão de Lauriano, os gestos de heroísmo e patriotismo foram substituídos por símbolos de tragédias ambientais, com referências diretas aos desastres provocados pelo rompimento de barragens de mineração no Brasil. A obra critica as escolhas de desenvolvimento do país, associando independência à devastação ambiental e social.
“A lama tóxica que percorre a paisagem na releitura de Lauriano é uma reflexão sobre o impacto da mineração no Brasil e as falhas de um modelo de progresso que acaba custando vidas e ecossistemas,” explica Lagoeiro.
Cinco Núcleos que Revelam a História e o Futuro Ambiental do Brasil
A exposição está dividida em cinco núcleos, cada um abordando um tema específico e fundamental para a compreensão do cenário ambiental brasileiro:
Monocultura — Explora o impacto da monocultura e da escravidão na configuração do território brasileiro, destacando como esses sistemas de produção geraram degradação ambiental e desigualdade social.
Pavimentação — Examina o processo de urbanização e suas implicações para o ecossistema e para as comunidades, abordando a resistência das culturas locais e seus impactos no espaço urbano.
Transbordamentos — Foca nas tentativas de controle dos cursos d’água ao longo da história, revelando as consequências ambientais e sociais dessas intervenções nos rios e ecossistemas.
Domesticação — Lança luz sobre a extinção de espécies e a emergência climática como sintomas de um desequilíbrio ambiental contínuo.
Força Geológica — Ilustra como a mineração e o desmatamento transformaram a geologia do Brasil e os desastres ambientais que surgem dessa relação. Além disso, destaca iniciativas que visam restaurar a biodiversidade e práticas sustentáveis de manejo do solo.
Diálogo entre o Passado e o Presente
O contraste entre as obras clássicas do acervo do Museu do Ipiranga e as peças contemporâneas evidencia como as escolhas históricas do país continuam a impactar o presente. A chefe da Divisão de Acervo e Curadoria do museu, Aline Montenegro Magalhães, ressalta que as obras de artistas como Benedito Calixto e Henrique Manzo romantizam o progresso, mas as novas obras oferecem uma visão crítica, revelando os efeitos dessas decisões.
“As imagens do passado mostram a produção agrícola e a expansão urbana como marcos de progresso. As obras contemporâneas trazem um contraponto, destacando os impactos ambientais e sociais dessas escolhas," afirma Aline.
Participação Ativa dos Artistas Contemporâneos
Além de Lauriano, outros artistas contemporâneos — como Alice Lara, Bruno Novelli, Luana Vitra e Mabe Bethônico— contribuem para a mostra com obras que abordam questões como mineração predatória, resistência cultural e preservação da biodiversidade. Suas criações se entrelaçam com o acervo histórico do museu, ampliando o diálogo sobre as múltiplas camadas da história e do desenvolvimento brasileiro.
Experiência Imersiva e Colaboração Científica
A exposição conta ainda com a participação de cientistas e ativistas, como Ed Hawkins, conhecido pelas espirais climáticas, e Eduardo Góes Neves, arqueólogo especialista em Amazônia. Também participam coletivos de pesquisa e ativismo, como o Assentamento Terra Vista e o Projeto Hãmhi Terra Viva, que compartilham iniciativas de preservação e valorização da biodiversidade e dos modos de vida sustentáveis.
Visitação e Serviço
“Onde há fumaça: arte e emergência climática” oferece uma oportunidade única de reflexão sobre as escolhas de desenvolvimento do Brasil e suas consequências para o presente e o futuro. Com entrada gratuita, a exposição está aberta ao público até o dia 28 de fevereiro de 2024, no Museu do Ipiranga.
Serviço:
Local: Museu do Ipiranga — Rua dos Patriotas, 100, São Paulo/SP
Datas: Até 28 de fevereiro de 2025
Entrada: Gratuita
A exposição é uma oportunidade para que o público reavalie a nossa história e os impactos ambientais do nosso desenvolvimento, promovendo um olhar crítico sobre o passado e apontando para a urgência de um futuro sustentável.