ÚNICO VITRAL RETRATANDO UM JESUS NEGRO ENCONTROU UM NOVO LAR
O único vitral conhecido retratando um Jesus Negro encontrou sede institucional no Museu de Arte Memphis Brooks, onde ficará em exposição permanente em 2026. A obra de 1877 carrega uma história complicada.
Em 2022, Hadley Arnold, que comprou a Igreja de São Marcos de 1830, fechada em Warren, Rhode Island, e começou a reformar o prédio para transformá-lo em uma casa de família, convidou a estudiosa Virginia Raguin para dar uma olhada em uma janela incomum instalada no local. Raguin, professora de história da arte no College of the Holy Cross em Massachusetts e especialista em vitrais, disse que ficou emocionada com o que viu. “Esta é a coisa real”, disse ela.
Raguin e Arnold começaram a investigar e concluíram que a cor escura da pele de Jesus era uma escolha artística intencional. A dupla também investigou o patrocínio da obra. A janela foi encomendada à oficina de Henry E. Sharpe em Nova York pela rica viúva Mary P. Carr, que então doou a obra de arte para St. Mark’s em nome de Ruth B. DeWolf e Hannah Gibbs, duas outras mulheres brancas ricas da pequena comunidade de Rhode Island. DeWolf se casou com uma família que fez fortuna com a escravização, e tanto ela quanto Gibbs fizeram doações para a American Colonization Society (ACS), um movimento do século 19 que estabeleceu a nação africana da Libéria como uma colônia de antigos pessoas escravizadas dos Estados Unidos como alternativa à emancipação.
Em um artigo de 2022 intitulado “Aliados Imperfeitos”, Raguin e Arnold afirmam que “embora de forma imperfeita, Hannah Gibbs e Ruth Bourne DeWolf procuraram abordar a cumplicidade de seus ancestrais no tráfico humano”, observando que as imagens da janela foram projetadas para “tanto comemorar e perpetuar” o trabalho das mulheres na política racial da era da Reconstrução. Raguin também acha que o posicionamento proeminente das outras figuras da obra – Maria, Marta e a Mulher Samaritana – demonstra um desejo de expressar a igualdade de gênero.
Arnold tem procurado um lar institucional para a janela desde a sua descoberta e afirmou que selecionou o Memphis Brooks Museum por sua localização na maior cidade de maioria negra da América, seu foco na curadoria do trabalho de artistas negros e suas parcerias com outras instituições culturais, entre outros fatores.
“A janela não é apenas uma parte importante da história, mas uma poderosa obra de arte”, disse a curadora-chefe do museu, Rosamund Garrett. Ela explicou que é raro encontrar um vitral do final do século 19 que “fale tão vividamente sobre questões ainda relevantes hoje”.
A obra está em processo de restauração, mas eventualmente será exposta em uma galeria envidraçada ao lado do pátio central da instituição. À noite, a janela estará iluminada e visível a partir do espaço público exterior do museu.
via: dasartes
