Tudo precisa ser útil? A filósofa Helen de Cruz fala sobre deslumbramento e produtividade
"A admiração é uma surpresa repentina da alma," disse René Descartes, famoso filósofo francês do século XVII. Ele definiu a admiração como a primeira das seis paixões primitivas em sua obra As Paixões da Alma. Essa paixão é especialmente importante para a filósofa belga Helen de Cruz.
Cruz, em entrevista à BBC News Mundo, destacou que Descartes identificou seis emoções principais: admiração, amor, ódio, tristeza, alegria e desejo. Contudo, a admiração se destaca entre elas. “Todas estas emoções fazem avaliações. Mas a admiração não faz avaliações. Ela simplesmente observa em seus próprios termos,” explica Cruz. Hoje, nossa obsessão pela utilidade pode matar essa capacidade de admirar.
Helen de Cruz argumenta que o deslumbramento é essencial para nossa humanidade. Ele inspira novas ideias e invenções que enriquecem nossas vidas. No seu livro Wonderstruck: How Wonder and Awe Shape the Way We Think, ela defende que tanto o assombro quanto o deslumbramento são fundamentais para nossa compreensão do mundo.
Assombro vs. Deslumbramento
Enquanto o assombro surge ao percebermos a imensidão do universo, o deslumbramento é a emoção despertada pelo desconhecido além de nossa compreensão. Essas emoções exigem que abramos espaço em nossas mentes para acomodá-las, algo que nossa sociedade orientada pela produtividade frequentemente ignora.
A História do Deslumbramento
Desde Platão e Aristóteles, que viam o assombro como a origem da filosofia, até os cientistas modernos, o deslumbramento sempre esteve no centro do conhecimento humano. Na Idade Média, a distinção entre milagres e maravilhas refletia a curiosidade sobre o desconhecido.
Robert Hooke, no século XVII, ficou maravilhado com o que viu ao microscópio, destacando a beleza natural até nas coisas mais simples, como uma pulga. Esse senso de deslumbramento continua relevante na ciência moderna, que, ao desvendar mistérios, muitas vezes revela novos.
Obstáculos Modernos ao Deslumbramento
A tecnologia, apesar de seus avanços, também traz obstáculos como a poluição luminosa, que nos impede de ver a Via Láctea. Mas o maior obstáculo é nosso comportamento voltado à produtividade. Cruz adverte que o deslumbramento requer atenção e um afastamento da mentalidade de utilidade.
Como Cultivar o Deslumbramento
Em seu livro, Cruz sugere várias maneiras de reintegrar o deslumbramento em nossas vidas: participar de eventos científicos, observar eclipses, apreciar a arte e a filosofia, ou simplesmente parar para sentir o aroma das rosas.
Sem um pouco de magia, sem espaço para o inesperado e maravilhoso, a vida pode se tornar aborrecida e monótona. A realidade é repleta de maravilhas. Precisamos abrir espaço para elas, para que a vida valha a pena.
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