“Mulher Viva” será lançado na Livraria da Travessa Leblon no dia 4 de julho
Gustavo Malheiros retrata personalidades em livro-manifesto contra o feminicídio; Heloísa Teixeira, que fez a curaria, terá homenagem póstuma
Concluído pelo fotógrafo Gustavo Malheiros no início do ano, o livro “Mulher Viva”, será lançado em julho na Livrara Travessa do Rio de Janeiro no dia 4 de julho, às 18h, e também nesse semestre, em São Paulo. A ideia nasceu, como ele mesmo afirma no texto autoral de abertura, de um impulso urgente em amplificar vozes e rostos de mulheres que estão na linha de frente da luta contra o feminicídio. Para representar essas vozes e esses rostos, foram convidadas 25 personalidades de diferentes áreas de atuação, dentre elas a cantora Alcione, Antônia Pellegrino, Bruna Linzmeyer, Camila Pitanga, Carol Solberg, Clara Buarque, Dira Paes, Eliana Sousa Silva (Diretora Fundadora da Redes da Maré), Erika Hilton, Gabriela Prioli, Marieta Severo, Mart'nália, Regina Casé, Roseana Murray, Tais Araújo, Marisa Orth, Ana Kariri, Deise Monteiro de Carvalho, Jurema Werneck, Marcela Cantuária, Kananda Eller e a própria Maria da Penha, cuja história deu origem à Lei com seu nome, sancionada em 2006.
Defensora das causas femininas e feministas em sua obra e trajetória, a escritora e ex-imortal da ABL, Heloísa Teixeira – falecida em março de 2025 e também retratada por Malheiros -, assinou a curaria do projeto junto com Gringo Cardia. A proposta reverbera como um manifesto composto por fotos e entrevistas realizadas pela jornalista Maria Fortuna. Para todas elas, a primeira pergunta feita foi “O que é ser mulher hoje?”.
Publicado pela Arte Ensaio Editora, “Mulher Viva” tem direção de arte assinada por Gringo e terá, inicialmente, edição impressa bilíngue com tiragem de dois mil exemplares, tendo metade da renda obtida através das vendas revertidas para uma instituição que trabalha pela implantação de políticas públicas a fim de erradicar a violência contra a mulher.
Na ocasião, Rosiska Darcy de Oliveira prestará homenagem a Heloisa Teixeira, com a participação de Numa Ciro, representante da Universidade das Quebradas, Gringo Cardia e Maria Fortuna.
Trecho extraído do prefácio de Heloísa Teixeira
As mulheres reunidas aqui neste livro são belas. Uma beleza que vem da força, da determinação, da consciência de seus direitos. E do poder que elas expressam.
São mulheres vivas que desejam que as outras mulheres continuem vivas e lutem por isso.
A mais icônica do presente documento é a cearense Maria da Penha Maia Fernandes, farmacêutica bioquímica, mãe de três filhos, vítima emblemática da violência doméstica e hoje líder de movimentos de defesa dos direitos das mulheres. A história de Maria da Penha é tão conhecida quanto terrível. Em 1983, seu marido, economista e professor universitário, tentou matá-la duas vezes. Na primeira vez, atirou simulando um assalto; na segunda, tentei eletrocutá-la enquanto ela tomava banho. Por conta das agressões sofridas, Maria da Penha ficou paraplégica. Dezenove anos depois, em outubro de 2002, quando faltavam apenas seis meses para a prescrição do crime, seu agressor foi condenado. Entretanto, já em 2004, apenas dois anos depois, foi solto e até hoje vive em liberdade. O episódio chegou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e foi considerado, pela primeira vez na história, um crime de violência doméstica. Em seguida, um passo definitivo foi dado em 7 de agosto de 2006, quando a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340) foi sancionada. A lei estabelece que todo caso de violência doméstica e intrafamiliar é crime, devendo ser apurado através de inquérito policial e ser remetido ao Ministério Público. O problema, entretanto, não estava de tudo resolvido. Apesar dos avanços legislativos representados pela Lei Maria da
Penha, a própria cultura machista resiliente faz com que muitos magistrados ainda enfrentem dificuldades em interpretá-la corretamente. A complexidade dos casos de violência doméstica e familiar exige sensibilidade e consciência de gênero, o que muitas vezes é obscuro por interpretações formalistas da lei por parte de juízes homens, desconsiderando a urgência e a gravidade da proteção às mulheres. A entrevista de Maria da Penha, que oferece uma perspectiva e experiência pessoal, foi dada especialmente para este livro, tornando-o
particularmente importante. Mas não só de casos extremos vive a violência doméstica.
Para este livro, queríamos diferentes visões e experiências de mulheres que, mesmo sem terem experimentado pessoalmente violências radicais, vivem sobressaltadas e atentas porque são quase infinitas as formas de violência contra nós. Neste sentido, a diversidade das mulheres aqui selecionadas não aconteceu por acaso. Ao contrário, procuramos vários
tipos de mulheres – e de belezas – propositalmente. Temos as violências psicológicas, as mais comuns, que se dissolvem no cotidiano, e que só recentemente foram identificadas e ganharam nomes.
Algumas frases das entrevistadas
“Não existe feminismo sem falar em interseccionalidade” (Taís Araújo)
“Me orgulho de ter construído minha própria história ao lado de um homem com espaço absoluto” (Marieta Severo)
“Se não meter a colher, homem enfia a faca mesmo” (Mart'nália)
“Amarmos umas às outras é revolucionário” (Bruna Linzmeyer)
“O Brasil do futuro para se viver melhor como mulher é um país onde a igualdade de gênero deixa de ser uma promessa e se torna uma realidade concreta” (Gabriela Prioli)
“Desconheço uma mulher que não tenha sido minimizada, desacreditada, vítima de qualquer tipo de abuso” (Andréia Sadi)
“Pensar na ideia de um dia não ter medo de homem em nenhuma situação é um sonho” (Carol Solberg)
"Eu gosto da força da mulher. Somos fortíssimas, guerreiras naturais" (Marisa Orth)
“É impossível respirar com tranquilidade quando vejo tantas mulheres são violentadas e silenciadas” (Camila Pitanga)
Serviço
“Mulher Viva”
Fotos de Gustavo Malheiros
Lançamento Rio de Janeiro: 4 de julho, das 18h às 22h.
Local: Livraria Travessa Leblon
Endereço: Shopping Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco, 290)/loja 205-A
320 páginas
Editora: Arte Ensaio
Curadoria: Heloísa Teixeira e Gringo Cardia.
Entrevistas: Maria Fortuna
Direção de Arte: Gringo Cardia