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Interação com a arte se torna digital - Guia das Artes
Interação com a arte se torna digital
Interação com a arte se torna digital
Pandemia de coronavírus intensifica os recursos online para visualização e comercialização de arte
inserido em 2020-03-24 16:10:25
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Desde o avanço dos casos de coronavírus pelo mundo, as feiras de arte que estavam previstas para acontecer nos primeiros meses do ano – como a Tefaf (The European Fine Art Fair), a Liste Art Fair Basel e a Art Basel – adiaram sua programação para o final do semestre.

No Brasil, a SP-Arte, que aconteceria no início de abril, teve sua programação interrompida sem anúncio de nova data. Com a impossibilidade de realização das feiras presenciais, a alternativa agora é investir em formatos online: os viewing rooms

A Art Basel Hong Kong, que já estava com os stands montados para a feira que teria acontecido na semana passada – entre 17 e 21/3 – encontrou no viewing room uma maneira de prosseguir. Maquetes dos stands estarão disponíveis online entre quarta, 25, e sexta-feira, 27/3, para o público em geral, após um preview para convidados, galeristas e colecionadores. Cada galeria apresenta dez obras e o visitante tem a opção de percorrer os espaços livremente ou de acessar os conteúdos que mais interessam, por meio de filtros – nacionalidade, linguagem ou valor. Ao clicar sobre as obras, é possível visualizar diferentes ângulos, informações detalhadas sobre materiais e dados biográficos sobre os artistas. 

Ian Lucas, diretor da Verve Galeria, São Paulo, adverte que as feiras virtuais reiteram a hierarquia entre galerias grandes, médias e pequenas, pois as mais conhecidas são naturalmente as primeiras a serem procuradas e o público pode não chegar, desse modo, a ter um contato inesperado com obras de artistas em início de carreira – experiência mais propícia a acontecer no percurso presencial. “Olhei os stands de umas 30 galerias, mas só as maiores assinalavam venda”, diz Lucas à seLecT.

O galerista Alexandre Roesler assinala, entre as vantagens do virtual, a redução de custos (que envolvem tanto a participação na feira, como transporte e equipe) e o aumento do alcance da galeria, na medida em que será possível o contato com novos colecionadores e clientes de regiões antes não acessadas. “Nós sempre apoiamos atividades online, pois servem de forma complementar às exposições e feiras físicas. Há dez anos participamos da feira VIP Art Fair, que era totalmente online, e tivemos também um projeto chamado Galeria Motor, uma tentativa de vender obras a partir do Submarino”, diz Roesler. A galeria também alimenta regularmente um canal de vídeo com depoimentos de artistas e curadores. 

“O estranho da feira virtual é que não tem a interação social e você não consegue saber se há pouca ou muita gente na sala. O ideal seria ter alguma forma de bater papo diretamente ou receber as estatísticas na hora em que as pessoas acessam o stand. O galerista se torna muito passivo no meio virtual”, diz Roesler. 

 
  • Viewing room da Galeria Nara Roesler na Art Basel Hong Kong (Foto: Reprodução)
  • Viewing room da Galeria Nara Roesler na Art Basel Hong Kong (Foto: Reprodução)
  • Viewing room da Galeria Nara Roesler na Art Basel Hong Kong (Foto: Reprodução)
  • Viewing room da Galeria Nara Roesler na Art Basel Hong Kong (Foto: Reprodução)

SP-Arte online
Uma das mais influentes feiras da América Latina, a SP-Arte procurou manter seu calendário até o último momento. Pouco antes dos anúncios das autoridades sobre a necessidade de isolamento social, no entanto, a direção da feira decidiu adiar o evento. Segundo a diretora Fernanda Feitosa, tudo está pronto, caso surja uma oportunidade em breve. “Ainda não temos previsão para novas datas, pois estamos no olho do furacão. Em apenas três dias, o mundo virou por conta do vírus e o futuro está muito incerto”, diz Feitosa. 

Desde o final de 2018, a feira já investe no digital como plataforma comercial e de difusão de informações sobre obras, artistas e galerias. O próprio viewing room já era estudado como um novo campo de atuação.  Agora, durante a quarentena mundial, sua implantação deverá ser adiantada. “Temos uma plataforma de conteúdo, a 365, que é uma forma de comunicação permanente da SP-Arte com o público. Nela, os visitantes podem se cadastrar e identificar o que querem ver”, continua Feitosa. “Cada galeria tem um perfil no site da feira, pode subir imagens e usar as ferramentas de comunicação disponíveis. Metade das nossas galerias tiveram vendas a partir dessa plataforma. As chances de alguém comprar online são parecidas com aquelas de alguém que passa por uma galeria”, garante. 

Para a diretora da SP-Arte, o uso do digital para o comércio de obras chegou tardiamente no ramo das artes. “Há muitos anos fazemos supermercado, compramos livros e discos online. Agora, no campo da arte, esse hábito não era comum, porque é um mercado pautado pelo encontro presencial. Não está errado, mas estamos um pouco atrasados em relação a outros setores. A conversão para o digital é um acréscimo e as oportunidades de interação vão aumentando”, diz Feitosa. 

Galerias nas redes
Mas não só as feiras tiveram que se reinventar. O cotidiano das galerias também mudou. Fechadas (ou abertas mediante agendamento) e com a impossibilidade de visitação, galerias estão investindo intensamente no uso das redes sociais para divulgar não apenas obras dos artistas representados, mas conteúdos com caráter educativo, como sugestões de leituras, informações sobre obras, trajetórias e exposições. Dentro dessa iniciativa, a visita virtual a ateliês também se tornou uma constante. 

“Quando começou a quarentena, pelo menos três clientes desistiram de compras e nós tivemos que nos reorganizar para atingir o público de outra forma”, diz Ian Lucas, da Verve. “Fizemos um tour virtual pela exposição do Dudu Garcia e ativamos clientes que ficaram interessados. Também fizemos uma seleção de obras de artistas jovens com valores acessíveis, ressaltando a importância do fomento desses nomes. Agora vamos chamar os artistas da galeria para assumir nosso Instagram. Vamos começar com uma apresentação do Marco Paulo Rolla em uma ação performática no seu ateliê. Isso vai aproximar a figura do artista do público”. 

A galeria Nara Roesler também mostra o processo de seus artistas nas redes sociais. “Fizemos um piloto de um projeto, que é uma conversa online entre um artista nosso e um grupo de colecionadores. Começamos com o Cássio Vasconcellos, que falou da carreira, dos trabalhos, projetos. As pessoas adoraram. Foi um piloto, mas queremos ampliar este tipo de projeto não apenas para colecionadores, mas interessados em geral, como artistas, curadores, pesquisadores etc”, diz Alexandre Roesler. 

A Simone Cadinelli Arte Contemporânea está convidando seus artistas representados e colaboradores, entre curadores, parceiros e amigos, para gravar vídeos caseiros, desde a quarentena, sugerindo livros, filmes, exposições virtuais e outros conteúdos. “Estamos no movimento de colaborar para ocupar a mente com conteúdo interessante e dar uma folga para as notícias”, diz Ludimila Oliveira, produtora executiva da galeria carioca. A primeira dica postada no Facebook da galeria é da artista Ursula Tautz, que sugere a leitura de Gramáticas Da Criação, do crítico literário George Steiner. 

Arte em tempos de comunicação digital
No texto It’s Not You – It’s Your Prices At Auction: Arte E Mercado Em Pablo Helguera, o pesquisador Henrique Grimaldi Figueredo analisa como, nos tempos digitais, os artoons do artista mexicano apontam para o fato de que “a peça de arte escapa das lógicas tradicionais de circulação para encontrar parte de seu valor em sua performance enquanto imagem”. Se a circulação de obras de arte como imagem no mundo digital já era uma premissa, em um momento em que a comunicação se dá majoritariamente pelo mundo virtual, as formas de interação, visualização e apreciação da arte devem mudar radicalmente.

“Como tudo na vida, tem um lado bom e um lado ruim: o lado bom dessa crise é que certamente nós e outras galerias vão testar e desenvolver novas ideias de como interagir com o público de uma forma não presencial”, diz Alexandre Roesler. “Algumas dessas ações vão se mostrar eficientes, outras vão ser descartadas, mas acho que o cenário vai gerar formas diferentes de trabalho e até mesmo diminuir as necessidades de viagens e deslocamentos no futuro. Mas ainda acredito que todas essas atividades virtuais são complementares. A presença física nunca deixará de existir no mundo da arte”.

 

Fonte: https://www.select.art.br/interacao-com-a-arte-se-torna-digital/

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