Prevista para estrear no dia 25 de janeiro de 2018 no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo, a retrospectiva do norte-americano, de ascendência afro-caribenha, Jean-Michel Basquiat poderá ser vista a partir de 16 de julho em Belo Horizonte, após passar por Brasília. A exposição permanecerá em cartaz até 26 de setembro e, em seguida, segue para o Rio de Janeiro.
Ao todo, serão apresentadas 80 obras do nova-iorquino que morreu aos 27 anos, em 1988, vítima de overdose. Todas as peças pertencem ao acervo particular do milionário colecionador israelense Jose Mugrabi, radicado em Nova York. Ele não só possui o mais importante conjunto de trabalhos de Basquiat, como também é dono da maior coleção de trabalhos de Andy Warhol (1928-1987).
De acordo com o curador, Pieter Tjabbes, essa parceria foi de extrema importância, porque as mais significativas criações de Basquiat não estão em museus, mas sob a guarda de colecionadores. “Enquanto Basquiat trabalhava, entre as décadas de 70 e 80, ele chamava muita atenção de colecionadores, mas não era muito procurado por museus. Em 1985, teve a sua primeira exposição num museu da Holanda, que adquiriu uma obra dele. Basquiat já era reconhecido em vida, mas após sua morte os preços dos seus trabalhos continuaram subindo, o que impossibilitou que museus adquirissem suas obras. Geralmente, os que as têm só conseguiram por meio de doações”, observa Tjabbes.
Hoje, Basquiat não só é o artista mais caro dos Estados Unidos (uma tela sua alcançou US$ 110 milhões num leilão, tornando-se a mais cara obra de arte norte-americana já vendida), como também é disputadíssimo pelos museus. “O que não deixa de ser algo novo se pensarmos na sua trajetória”, lembra Tjabbes.
Recentemente, houve mostras de Basquiat em Nova York, Milão, Roma e Londres. E em 2018, além da retrospectiva no Brasil, serão realizadas outras exposições na Alemanha e na França. O Museu de Arte de São Paulo (Masp), inclusive, também planejava um projeto expositivo centrado no artista para 2018, mas acabou cancelando a proposta, em razão de a mesma iniciativa ter sido firmada pelo CCBB.
Espírito. Para Tjabbes, o motivo de Basquiat ser tão valorizado deve-se não só ao fato de ele ter concebido peças de grande qualidade, mas porque suas criações, como poucas, refletem o espírito de uma época. “Basquiat vivia em Nova York, num período em que a cidade estava falida. A criminalidade estava alta, havia vários prédios abandonados, mas isso, ao mesmo tempo, possibilitava que artistas jovens dos Estados Unidos e de várias partes do mundo pudessem morar ali. Havia, então, uma efervescência local, e foi naquela época que também nasceu o hip hop, vertente que tem a ver com o grafite, a música, a poesia e a dança”, recorda ele.
“Basquiat se encaixava perfeitamente naquele cenário de experimentação. Ele misturava diversas linguagens e desenvolveu seus trabalhos num momento em que a figuração estava voltando à cena”, completa.
Tjabbes observa que Basquiat soube nutrir-se de diversas referências, dialogando, principalmente, com a pop art. “Ele, às vezes, pegava uma imagem e a levava para outro contexto. Ele fazia muitas assemblages, utilizando não só palavras, imagens, mas também objetos, figuras de desenhos animados, anúncios de jornal, ou seja, algo que aprendeu com a pop art”, sublinha.
Entre os ícones dessa vertente, Warhol foi sem dúvida a maior influência de Basquiat. “Eles trabalharam juntos numa série de pinturas. Foi Basquiat que estimulou Warhol a retomar o pincel, num momento em que ele não pintava mais e trabalhava com assistentes que o ajudavam na lida mais com serigrafia. Por outro lado, esse encontro com Warhol também fez Basquiat experimentar essa linguagem”, conta Tjabbes.