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5 projetos que levam arte e poesia para cidades históricas coloniais - Guia das Artes
5 projetos que levam arte e poesia para cidades históricas coloniais
5 projetos que levam arte e poesia para cidades históricas coloniais
O fotógrafo documental Marcelo Oséas fala sobre projetos e pessoas das cidades históricas de Tiradentes, Paraty, Diamantina e Ouro Preto
inserido em 2021-10-19 18:06:22
Conteúdo

 

Tiradentes (MG), pelo projeto BrasisQueVi (Foto: Fotografia de @marcelooseas em colaboração com @gabrielfernandesarch )Tiradentes (MG), pelo projeto "BrasisQueVi" (Foto: Marcelo Ósea com Gabriel Fernandes / Divulgação)

Quando atribuí a mim mesmo o desafio de escrever sobre a cultura nas cidades coloniais brasileiras, o fiz como uma espécie de provocação. Sabia que esse assunto geraria em mim um desafio imenso – olhar para uma dura página de nossa história, fazendo reverência ao suor e sangue de populações historicamente oprimidas e, ainda assim, ser capaz de ter fôlego para se maravilhar com uma herança arquitetônica e sua poética ocupação contemporânea.

Que algo fique claro: não existe romance na colonização. Comentei em minha coluna anterior, sobre as redes de dormir, que a ocupação do território brasileiro pelos portugueses se deu exclusivamente por interesses comerciais. Desta maneira, tudo tinha que ser prático, objetivo, padronizado. Muitas vezes, as ocupações eram temporárias e apenas ganhavam melhores condições construtivas, pelas mãos dos escravos, quando havia potencial econômico na região observada, especialmente com a chegada dos burocratas, dos engenheiros e demais especialistas da coroa ou do Estado.

Assim se deu, sem nenhum encanto, a construção daquelas que chamamos de cidades históricas brasileiras, que utilizavam de postulados construtivos coloniais para se desenvolverem. Como dizia Fernando de Azevedo, “até meados do século 19 as cidades não passavam de aldeias, acanhadas e sujas, atropeladas de becos e vielas”. Não havia, por exemplo, sistema de esgoto em cidadelas como Paraty, cujos dejetos humanos eram lançados à rua e a maré se encarregava de escoá-los para além-mar.

Visão artística de janela típica colonial em Tiradentes (MG), pelo projeto BrasisQueVi (Foto: Fotografia de @marcelooseas em colaboração com @gabrielfernandesarch)Visão artística de janela típica colonial em Tiradentes (MG), pelo projeto "BrasisQueVi" (Foto: Marcelo Ósea com Gabriel Fernandes / Divulgação)

Entretanto, esse passado muito próximo – cujas mazelas ainda não conseguimos superar – já é tempo suficiente para que as cidades coloniais, como Tiradentes, Paraty, Diamantina, Ouro Preto e tantas outras recebam um fluxo completamente distinto de ocupação: a vida cultural e turística. Congeladas no tempo pelo desinteresse econômico, aos poucos, seus lares foram ocupados por artistas, pensadores e pensadoras culturais, e suas vielas passaram a receber o trânsito de turistas, maravilhados pelos ares pitorescos em contrapartida a seus cotidianos megalopolitanos. 

Assim como a brisa suave que corre pelas ruas das cidades coloniais semi-planejadas, ressoam em suas paredes uma pergunta quase ensurdecedora: Como pode um passado tão grotesco dar espaço para uma vida tão pulsante e tanto maravilhamento? E a resposta, como um eco, reverbera insistentemente: O olhar humano, que teima em enxergar beleza em tudo o que toca. Não sei o porquê desse hábito coletivo, sou um mero fotógrafo especialista em cultura brasileira. Mas sei, ou melhor, sabemos que se nos demoramos um pouco em qualquer lugar, suas belezas logo começam a fisgar nossos olhares.

Sala de jantar da casa construída em estilo colonial por Wagner Trindade e sua esposa, a quem chama carinhosamente de Cherry. Tiradentes-MG, pelo projeto BrasisQueVi (Foto: @marcelooseas em colaboração com @gabrielfernandesarch)Sala de jantar da casa construída em estilo colonial por Wagner Trindade e sua esposa, a quem chama carinhosamente de Cherry. Tiradentes-MG, pelo projeto BrasisQueVi (Foto: Marcelo Óseas com Gabriel Fernandes / Divulgação)

Aliás, nada mais justo que seguir essa coluna compartilhando com vocês grandes projetos, pessoas e histórias que contribuem enormemente para a ocupação poética contemporânea das nossas cidades coloniais. Eu, no seu lugar, faria questão de conhecer todos, o quanto antes.

1. Gabriel Fernandes

Jovem e brilhante arquiteto, que com seu projeto Brasis Que Vi, de enorme entrega e honestidade, debruça-se a dar visibilidade às diferentes formas de vida em nosso país. Eu tenho o privilégio de ser o fotógrafo do projeto, cujas imagens realizadas em Tiradentes (MG) em 2020, ilustram parte desta coluna. Corajosamente, é importante dizer, o projeto se tornará livro e conteúdo audiovisual e retoma suas viagens no início de 2021. Vale acompanhar pelo instagram @gabrielfernandesarch e a hashtag #BrasisQueVi

Retrato de Gabriel Fernandes, retratado em frente a uma mercearia histórica na Serra do Cipó, com colaboração de Mary Pastor para o projeto Brasis Que Vi (Foto: @marcelooseas)Retrato de Gabriel Fernandes em frente a uma mercearia histórica na Serra do Cipó, com colaboração de Mary Pastor para o projeto Brasis Que Vi (Foto: Marcelo Óseas / Divulgação)

2. Wagner Trindade

O mestre artesão Wagner Trindade e sua família, com profunda conexão com as simbologias construtivas coloniais e o entorno de belezas naturais de sua cidade natal, Tiradentes (MG). Seu esforço e trabalho mantém uma grande tradição na manufatura de belíssimas luminárias, muitas delas com inspiração marroquina – um grande exemplo das multiplicidades de nossa cultura. 

Retrato de Wagner e Cherry, reprodução de uma imagem antiga do casal. Desta vez, em frente à sua oficina. Agora, precisamos refazê-la com seu filho Luizinho (Foto: @marcelooseas/ Divulgação)Retrato de Wagner e Cherry, reprodução de uma imagem antiga do casal. Desta vez, em frente à sua oficina. Agora, precisamos refazê-la com seu filho Luizinho (Foto: Marcelo Óseas / Divulgação)

3. Daniela Karam

Daniela Karam se dedica há 30 anos ao design gráfico, têxtil e de superfície. Uma multiartista com sensibilidade única, que se presta a desenvolver objetos para a casa e pinturas de beleza absoluta. Como costumo dizer há anos, seu trabalho torna qualquer artista humilde, é impecável da obra à embalagem. Em 2016 escolheu viver em Tiradentes (MG), onde recentemente abriu a Casa Picnic, um espaço com horários efêmeros e que, em suas próprias palavras, oferece “Delicadezas para saborear um cotidiano feliz.”. 

Retrato de Daniela Karam, passeando por sua exposição “Maria, eu te daria meu jardim de flores”, realizada em 2019 na @_yankatu_ (Foto: @marcelooseas)Retrato de Daniela Karam, passeando por sua exposição “Maria, eu te daria meu jardim de flores”, realizada em 2019 na @_yankatu_ (Foto: Marcelo Óseas / Divulgação)

4. Academia de Cozinha & Outros Prazeres, de Yara e Richard Roberts em Paraty (RJ)

Uma janela entreaberta, de cor encarnada, convida os passantes do Centro Histórico a um espaço de acolhimento e cultura, uma doce referência às tradições das tabernas de tempos distantes. O casal, com histórias de vidas que perpassam continentes, perpetuam as tradições de suas famílias: a mesa de jantar é o centro da casa. Em seu projeto, multipremiado, oferecem aulas e encontros gastronômicos com foco na culinária brasileira e suas matrizes. As experiências devem ser agendadas com antecedência.

The Brazilian Table, livro publicado em 2009 nos Estados Unidos pela Gibbs Smith, de autoria de Yara e Richard Roberts (Foto: @marcelooseas)The Brazilian Table, livro publicado em 2009 nos Estados Unidos pela Gibbs Smith, de autoria de Yara e Richard Roberts (Foto: Marcelo Óseas / Divulgaçào)

5. Livraria das Marés

Livraria das Marés, que ocupa um casarão histórico em Paraty (RJ) e em seu interior um belíssimo projeto da arquiteta Bel Lobo – sempre assertiva e poética. Como filho de livreiro, é impossível não adentrar seus espaços e não se maravilhar com a impecável curadoria de títulos, realizada pela livreira apaixonada Kiki Machado.

Retrato da fachada da Livraria das Marés, com o reflexo do Centro Histórico de Paraty (MG) (Foto: @marcelooseas)Retrato da fachada da Livraria das Marés, com o reflexo do Centro Histórico de Paraty (MG) (Foto: Marcelo Óseas / Divulgação)

Por fim, prefiro que esta coluna não seja datada, mas cabe citar dois eventos que ocorrem anualmente e, na minha opinião, merecem ser visitados. Em Tiradentes (MG), a Semana Criativa de Tiradentes, um projeto sócio-cultural que objetiva a salvaguarda dos saberes tradicionais, por meio da fusão com o design contemporâneo, vivências e palestras. E a Flip Festa Literária Internacional de Paraty, que pelo décimo nono ano preenche os espaços com discussões e eventos literários de altíssimo nível. Suas próximas edições ocorrem ainda neste ano de 2021. Vale a pena conferir os cuidados de distanciamento social aplicados e, caso sinta-se seguro, visitá-los. 

Marcelo Oséas(Foto: Marcelo Oséas )

Marcelo Oséas (Foto: Marcelo Oséas )

Marcelo Oséas
Fotógrafo documental, especialista em cultura brasileira.

 

Fonte: Revista Casa Jardim

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