A exposição Não-Dito, da artista pernambuca Ana Lira. As obras foram criadas a partir de restos de campanhas eleitorais coletados em centros urbanos brasileiros e ficarão expostas no Museu de Artes Brasil-Estados Unidos (MABEU – CCBEU) até 24 de fevereiro. A mostra, selecionada através do Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015, tem curadoria de Pablo Lafuente e produção da Proa Cultural.
Não-Dito resulta de um processo de pesquisa do projeto Voto!, no qual a artista explorou a atual crise de representação política brasileira, mapeando discursos criados por rasgos, escritos e colagens que foram deixados para trás pela população e transformados pela ação do tempo. O trabalho foi materializado em 16 peças de acrílico, seis impressos em formato de santinhos eleitorais, sete cartazes, uma lona e um projeto audiovisual, além de materiais encontrados nas ruas como panfletos, cartas abertas, adesivos e cartilhas.
O conjunto discute as relações de envolvimento e transparência nos processos de representação e o desgaste dos formatos de atuação política. Assim, busca incentivar uma cultura de participação coletiva. Paralelamente à mostra, um grupo de estudos semanal, aberto ao público, vai debater os conteúdos que nortearam a pesquisa artística e propor relações com o cenário local.
“A pesquisa exposta foi realizada no nordeste, mas a discussão proposta faz sentido em qualquer região do País”, observa Ana Lira, que desde o início do mapeamento, buscou tornar o debate universal e acessível a qualquer público. Durante o período expositivo, ela pretende ainda realizar um ciclo de intervenções artísticas nas ruas de Belém. “A proposta é que a exposição seja, ao mesmo tempo, uma plataforma de pesquisa para estudantes, artistas, pesquisadores e outros grupos interessados da cidade e uma forma de continuar desenvolvendo o próprio projeto”.
O representante da Funarte Norte/Nordeste, Naldinho Freire, explica que a chegada da mostra ao estado do Pará marca também um novo formato de atuação do Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, com a fusão das regiões Norte e Nordeste como áreas de realização. “Visitei Belém e percebi a potência artística da região. A sequência do Prêmio vai fomentar a participação de mais artistas baseados no Norte do país. A ida de Ana Lira ao Pará já proporciona trocas diversas com a comunidade artística local, com a equipe de mediação e com o público. Estamos felizes de promover essa articulação”, afirma Naldinho.