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Patrícia Pedrosa apresenta “Eu aos pedaços ou Ainda assim eu voo”, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro
A mostra reúne vinte trabalhos inéditos — entre gravuras em técnicas diversas, vídeo-performance, cerâmica, livro de artista e um sketchbook — nos quais Patrícia Pedrosa toma o próprio corpo feminino como matriz e medida. Ao articular experimentações gráficas, bordado, colagem, estêncil e suportes como papel vegetal e tecido, a artista investiga memória, somatizações e cicatrizes que atravessam a vida, criando obras que refletem processos de ruptura, cuidado e reconstrução.
O Centro Cultural Correios Rio de Janeiro apresenta, a partir de 26 de novembro de 2025 (quarta-feira), das 16h às 20h, a exposição “Eu aos pedaços ou Ainda assim eu voo”, de Patrícia Pedrosa. A mostra reúne um conjunto de trabalhos inéditos produzidos entre 2021 e 2025, período em que a artista intensificou sua investigação sobre a gravura e suas expansões possíveis. Na mostra, Patrícia compartilha um percurso marcado por atravessamentos íntimos e coletivos, nos quais a linguagem gráfica se desdobra para além das técnicas tradicionais e encontra novos modos de existir.
Composta por 20 trabalhos — dezesseis gravuras, uma vídeo-performance, uma cerâmica, um livro de artista e um sketchbook — a mostra evidencia o modo como Patrícia Pedrosa expande a gravura para territórios híbridos. Suas obras articulam técnicas variadas, como bordado, colagem, recortes, pintura e procedimentos xerográficos, criando camadas que tensionam superfície e materialidade. O uso de suportes como papel vegetal, tecidos bordados em bastidores e tintas fosforescentes reforça esse interesse por deslocar a tradição gráfica para outros campos de experimentação, produzindo composições que se constroem entre transparências, cortes, marcas e sobreposições.
A pesquisa de Patrícia Pedrosa se estrutura a partir do corpo feminino e das marcas que o atravessam — cicatrizes físicas e simbólicas que se acumulam como registro das experiências somatizadas ao longo dos anos. Durante o período da pandemia de Covid-19, esse campo de investigação ganhou novos contornos. O isolamento em seu ateliê e a ruptura da rotina coletiva intensificaram a percepção da artista sobre finitude, fragilidade e transformação.
Entre os trabalhos apresentados, destaca-se o livro de artista construído a partir de um exemplar da segunda edição de Conheça o escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade (1978), recebido por Patrícia ainda na adolescência como prêmio em um concurso de poesia. O gesto de intervir nesse livro — extraindo palavras e versos para outras composições e devolvendo ao objeto camadas de desenho, recorte e inscrição — insere a literatura como parte constitutiva de sua própria memória corporal. O sketchbook reunido entre 2021 e 2025 amplia esse campo, abrigando anotações, referências, estudos e passo a passo dos processos que conduziram às obras, revelando a trama íntima entre pensamento e gesto.
A cerâmica apresentada também nasce diretamente do corpo: moldada a partir dos próprios seios da artista, a peça se quebrou em várias partes durante a queima, mas registrou uma fratura mais evidente sobre o seio esquerdo, que havia passado por uma cirurgia em 2017. Mantida guardada por dois anos, a obra foi retomada em 2025, e logo depois a artista passou por uma nova intervenção cirúrgica nessa mesma área. Nesse processo, Patrícia reuniu os fragmentos e concluiu a peça inspirada na estética e no conceito do kintsugi — tradição japonesa que evidencia as fissuras ao invés de ocultá-las — utilizando materiais contemporâneos para promover essa sutura simbólica. Como em toda a série, o tamanho real das peças deriva diretamente das medidas do seu corpo, reafirmando a centralidade da anatomia como matriz e matéria de trabalho. “A artista decompõe as dimensões do seu próprio corpo em gravura e o expande na figura de uma trindade feminina, deusa tríplice que faz das suas vivencias matéria de seu ofício”, destaca Ana Chaves, que assina o texto crítico que acompanha a mostra.
Ao reunir trabalhos que partem diretamente das medidas e das vivências do próprio corpo, Patrícia Pedrosa aciona uma espécie de cartografia íntima, na qual cada obra opera como registro e reflexão. “O corpo é o nosso projeto mais honesto — ininterrupto e irrevogável. Ele é redesenhado todos os dias por sentimentos, hábitos, escolhas e interações”, afirma a artista, para quem o ato de expor o corpo — seja em escala, em gesto ou em memória — amplia o campo dessa pesquisa. Sua produção se aproxima do que ela chama de autobiomórfica, uma forma de dar materialidade às marcas deixadas pelo tempo e pelas somatizações, sem dissociar adoecimento de cura. Ao tornar visíveis essas camadas, a artista desloca a gravura para uma zona em que anatomia, fantasia e experiência se entrelaçam, produzindo obras que tensionam vulnerabilidade, reconstrução e presença.
As obras inéditas reunidas em “Eu aos pedaços ou Ainda assim eu voo” nascem desse tempo suspenso, em que o ritmo da vida sofreu torções profundas e a relação com o próprio corpo se tornou um território ainda mais sensível de observação e elaboração. A mostra permanece em cartaz até 17 de janeiro de 2026, com visitação gratuita de terça a sábado, das 12h às 19h, no Centro Cultural Correios (Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro – Rio de Janeiro).
A artista
Patrícia Pedrosa (1971, São Gonçalo - RJ), possui bacharelado em Gravura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994) e atualmente é a docente responsável pela disciplina de litografia na mesma instituição onde se formou. Participa de individuais e coletivas desde 1992, tendo ministrado cursos, workshops e oficinas, atuando principalmente com gravura, desenho e história da arte. É doutora em Artes Visuais pela EBA - PPGAV – UFRJ e mestre na mesma instituição, ambos na linha de História e Crítica da Arte. Em 2025 recebeu Menção Honrosa na Kitchen Print Biennale de l’estampe (Épinal, França), uma competição com ênfase em pesquisas artísticas na gravura alternativa e não tóxica. Atualmente se divide entre o trabalho no seu ateliê em Petrópolis (RJ) e o Rio de Janeiro, onde leciona na Escola de Belas Artes - EBA/UFRJ.
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