Duas Cavernas contempla as principais vertentes trabalhadas intensamente pelo artista nos últimos meses. Conhecido por sua capacidade de mudar radicalmente o rumo de sua produção, em busca de novos caminhos de pesquisa, Andrade vive um momento de maior síntese, em que os vários percursos trilhados em 33 anos de carreira parecem confluir para uma maior interação. E cria, com essa exposição, uma interessante interface de diálogo com a grande mostra retrospectiva de sua obra, que ocorre no final do ano na Estação Pinacoteca.
Ao todo a mostra reunirá entre 25 e 30 telas, que se organizam em torno de três eixos principais: as paisagens, inspiradas em sua grande maioria por obras clássicas assinadas por mestres como Ruysdael, Uccello e Bellini (que ocuparão o espaço da galeria); as pinturas abstratas, chamadas de Bilaterais, formadas por dois grandes campos cromáticos em equilíbrio (exibidas no anexo); e, como fiel da balança – por trazer questões familiares aos dois grupos anteriores – uma série de trabalhos recentes, apelidados de “figuras binárias".
Essas figuras binárias transitam entre o abstrato e o figurativo e lidam sempre com a ideia do duplo, do reflexo, aspecto bastante presente em toda a produção do artista. Algumas delas remetem ao universo dos cartoons ou a referências da história da arte (é o caso das telas Fera e Princesa, em diálogo evidente com São Jorge e o Dragão, de Uccello, e Bicho e Pedra, depois de Neves Torres, feita a partir de um trabalho do autor citado no título). Outras mais indecifráveis, como a gigantesca pintura mural, de 6 x 11 metros, que Andrade fará numa das paredes do anexo.
As grutas, catacumbas e rochedos, temas pitorescos do século XIX, encantam o artista há tempos e ele vem colecionando imagens do gênero desde 2010 e reelaborando pictoricamente esse motivo, até chegar no estágio atual. Tanto as cavernas como seus outros trabalhos são corpos volumétricos que se projetam para além do plano e conquistam o espaço. Para lidar com as massas de tinta – num tipo de trabalho que remete às pinturas com formas geométricas feitas por ele nos anos 2000, e que acabaram se tornando uma espécie de assinatura artística – Andrade lança mão de máscaras, moldes cuidadosamente desenhados no processo de recortar.
Desde os primeiros anos, quando seu trabalho e o de outros companheiros – reunidos no ateliê Casa 7 – ganhou projeção ao participar da 18a Bienal de São Paulo, várias foram as mudanças radicais em sua produção. A última delas ocorreu em 2010, quando Andrade – que vinha fazendo um trabalho fortemente abstrato – surpreendeu o circuito com as paisagens negras, imateriais, feitas a partir de registros fotográficos, que mostrou na 29a Bienal (2010). Agora, além de uma enorme vitalidade e de um retorno em busca a uma maior presença da cor e da forma, o artista parece mais disposto a trilhar caminhos paralelos, descobrindo em cada um deles elementos para nutrir sua pesquisa.