Por uma visão menos idealizada das obras de arte
Desde que Duchamp, no início do século passado, isentou a arte de uma experiência puramente visual, uma confusão sobre a relação entre meios e fins emergiu na crítica de arte. Nos últimos quarenta anos, críticos têm se focado na intenção do artista, tratando a arte quase como um programa de governo e o artista como um filósofo improvisado.
Enquanto o foco na intenção pode ter mérito, ele levou a confusões e a um otimismo especulativo. Nas principais escolas de arte, a intenção do artista é mais valorizada que a obra final. Isso resultou em teorias abundantes, mas em uma baixa percepção visual sólida. A intencionalidade é superestimada e muitas vezes, a execução da obra fica em segundo plano.
Grandes ideias são raras e os artistas devem equilibrar intenção e execução. George Balanchine, por exemplo, deixava suas ideias emergirem através do estilo, sem precisar discuti-las. Já Ken Price resumiu bem: "Nada que eu diga vai melhorar a aparência da obra."
A verdadeira arte é inseparável da ação. Os trabalhos mais convincentes são aqueles em que o pensamento e a execução são uma coisa só. Obras que ilustram manchetes tendem a ter vida curta, enquanto aquelas que capturam histórias não contadas perduram.
No final das contas, a arte é mais que uma soma de signos culturais; é uma linguagem direta e analógica com sua própria gramática. A atenção aos detalhes e à criação é o que gera uma resposta autêntica à obra.
David Salle é um artista americano, autor de "Arte: Olhar e Pensar" (Editora WMF Martins Fontes).