Um dos mais emblemáticos clássicos da história do cinema, Janela Indiscreta é um dos tantos exemplos do gênio que foi o diretor inglês Alfred Hitchcock – mas indiretamente o mérito sobre a estética e até mesmo a fotografia do filme deve ser também dado a outro gênio, esse da pintura: Edward Hopper.
A teoria de que Hitchcock teria se inspirado na solidão e no espírito voyeur retratados nas obras do pintor estadunidense é visível e reconhecível, e foi recentemente ilustrada comparativamente em um tweet pela escritora Diane Doniol-Valcroze – com cenas do filme e pinturas lado a lado.
Montagem compartilhada por Diane Doniol-Valcroze mostrando a influência © reprodução
Diane é filha de Jacques Doniol-Valcroze, um dos fundadores da revista francesa Cahiers Du Cinéma, a mais importante publicação sobre cinema do mundo – e ela não é a única a perceber a influência do pintor sobre a obra do maior gênio do suspense – são diversos os artigos e ensaios que apontam tal traço.
O pintor é reconhecido como um dos que melhor capturou a solidão da vida urbana no século XX e em especial nos EUA, e que muitas vezes se posicionou como um observador à distância – um voyeur como também é o personagem L. B. Jefferies, vivido em Janela Indiscreta em 1954 por James Stewart.

Cena de Janela Indiscreta © reprodução
“Night Windows”, de Edward Hopper (1928)
“Assim como a força dos quadros de Hopper está no que ele escolhe excluir, da mesma forma é a tensão e o espetáculo de Janela Indiscreto está no que está escondido ou no que não é visto”, afirma Finn Blythe em artigo sobre o tema na revista Hero. Algumas das cenas possuem de fato enquadramento bastante parecido com pinturas específicas de Hopper, fazendo com que o espectador, segundo o artigo, se torne “cúmplice nas mesmas mórbidas fantasias humanas” que o personagem – e que o pintor.

Outra personagem do filme de Hitchcock © reprodução

“Room in New York”, quadro de 1932
E não é só pelo enquadramento, mas também pela luz e a própria narrativa que Hopper se tornou uma influência para a obra de Hitchcock – e não somente: David Lynch, por exemplo, também tem sua obra diretamente marcada pela força estética do pintor.

“Office in a small city”, quadro de Hopper de 1953

“Eleven A.M.”, de 1926
“Automat”, de 1927
A fragilidade das pessoas retratadas – expostas – nos quadros, assim como a evidente solidão e alienação que cada um costuma habitar os quadros, faz com que as personagens de Hopper pudessem de fato saltar de uma tela para outra com naturalidade – para ser observada no filme que recebeu quatro indicações ao Oscar e é hoje reconhecido como uma das mais importantes obras da história do cinema.

Outro exemplo ilustrado: a casa de “Psicose”, e um quadro de Hopper