A cidade de São Paulo começou 2017 debatendo limites entre o que é arte urbana e o que é pura sujeira nas ruas. A remoção de pichações e grafites provocou discussões apaixonadas na metrópole. Nos Estados Unidos, a cidade da Filadélfia já passou por isso e desenvolve o maior programa de arte pública do país.
Quem vai andando pela rua se depara com um apelo à dignidade. Nem parece que a fachada é de um hospital. Em um estacionamento, uma homenagem à música, à descoberta, à própria arte.
A Filadélfia, berço da independência americana, é dona da maior galeria de murais dos Estados Unidos. Mas nem sempre foi assim. O programa de murais surgiu em 1984 para combater as pichações que se espalhavam pela Filadélfia, em uma época de decadência econômica. Para recuperar a imagem, a cidade histórica resolveu envolver a própria população. Os murais são pintados em áreas autorizadas. Os moradores de cada região escolhem o tema da obra e o melhor projeto. O bairro pobre ganhou uma homenagem ao líder negro Martin Luther King, que sonhou com um mundo em que a cor da pele não faria diferença.
O mural é do artista Willis Humphrey, mas não só dele. Presos pintaram em uma penitenciária folhas, que depois foram coladas para formar o mural. Willis diz que não se incomoda em não poder escolher o tema. Para ele, o que importa é criar algo que fala da comunidade e para a comunidade. Zenita é moradora antiga. Ela conta que a diferença é gritante. Os murais deixaram as pessoas mais orgulhosas e o bairro mais seguro.
As pichações na cidade não acabaram, mas diminuíram muito. A pena é dura: multa de US$ 300 e até prisão. Richard Dilullo, da instituição independente que toca o projeto, testemunhou uma transformação.
"Muitos pichadores tinham interesses artísticos e ganharam uma forma de canalizar a criatividade pra deixar a cidade bonita", diz o organizador do projeto Richard Dillulo.
Em 32 anos, já são mais de três mil murais enfeitando a Filadélfia. O programa, que tem apoio da prefeitura, custa um US$ 1,5 milhão por ano.
Stephen diz que, com o projeto, as pessoas passaram a respeitar mais o espaço público. Deixaram de jogar lixo e de urinar na rua. Outro efeito foi atrair turistas. Ed veio da Inglaterra cheio de elogios.
"Os murais são arte de graça, acessível pra todo mundo. Trazem cor e vida pra cidade", conta o turista Ed. Uma cidade que não esconde o passado mas comemora o presente.