Artista Visual Marcelino Melo, o Quebradinha, recria o universo visual de Porgy and Bess no Theatro Municipal de São Paulo
Indicado ao Prêmio PIPA 2025, Marcelino Melo cria uma obra instalativa inédita no Brasil, que articula memória, território periférico e ancestralidade
Foto: Léu Britto
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Nascido em Carneiros, no sertão alagoano, e radicado na zona sul de São Paulo, o artista visual, fotógrafo aéreo e arte-educador Marcelino Melo (1994) participa como artista visual convidado na montagem de Porgy and Bess no Theatro Municipal de São Paulo, concebendo uma obra instalativa. Conhecido pela série “Quebradinha” e por trabalhos que investigam memória, território e ancestralidade, Melo transporta o universo de Catfish Row para a realidade brasileira, em diálogo direto com as quebradas paulistanas.
Sob sugestão da diretora Grace Passô, o projeto cênico parte da releitura de sua obra “Coluna” (2022), convertida em instalação monumental que, ao mesmo tempo, sintetiza ancestralidade e modernidade. O resultado é um espaço que provoca reflexões sobre cotidiano, desigualdade estrutural e a potência estética dos territórios periféricos.
“No início, fiquei muito preocupado, sem ter ideia do que poderia construir. Mas tive uma enorme liberdade de criação, tanto por parte do Theatro Municipal quanto por parte da Grace”, comenta Marcelino. “Com a ajuda de Vinícius Cardoso, que assina o projeto cenográfico, exploramos várias ideias até chegarmos a esse universo surrealista, ao mesmo tempo concreto e fantasioso. Imagine: um enorme tijolo, com mais de dez metros, sobre o qual um monte de gente performa”.
Indicado ao Prêmio PIPA 2025, considerado o maior da arte contemporânea no Brasil, Marcelino já teve obras incorporadas a acervos como o Instituto Moreira Salles (IMS Paulista), o Museu das Favelas e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, onde realizou sua primeira individual em 2024. Sua produção também circula em escolas, livros didáticos e espaços independentes, consolidando-se como ferramenta de reeducação do olhar social.
Além de sua atuação no Brasil, a obra de Quebradinha já circulou internacionalmente, como na BIENALSUR, em Buenos Aires, e em mostras coletivas no IMS Paulista, Sesc SP e MAR Rio. Em 2024, realizou sua primeira exposição individual, “Etnogênese – o que é, e o que pode ser”, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, com curadoria compartilhada de Emicida, Luiza Testa e Patrícia Borges - um marco de reconhecimento nacional e internacional para sua pesquisa.
A presença de Quebradinha no projeto cênico de Porgy and Bess carrega ainda um peso simbólico: 103 anos após a Semana de Arte Moderna, o Theatro Municipal recebe, em seu palco, uma obra que incorpora as vozes e experiências que o modernismo deixou de fora.
Sobre o significado pessoal e coletivo de ocupar o Theatro Municipal, Marcelino afirma: “Meu povo construiu aquele prédio. As pessoas que carregaram tijolos talvez nunca imaginaram que um dia eles seriam símbolo de uma grande obra lá dentro. Botaram a gente para morrer nas favelas e, além de combinarmos de não morrer, ainda tivemos a ousadia de voltar como artistas”.
A diretora Grace Passô completa: “As obras de Marcelino me soam como grandes poemas plásticos. Quando recebi o convite do Municipal, pensei imediatamente em sua obra, porque para mim ela tem dimensões operísticas. Conhecer seu trabalho na cenografia da peça só reafirmou o quanto ele é raro e emocionante”.
As apresentações de Porgy and Bess acontecem nos dias 19, 20, 21, 23, 24, 26 e 27 de setembro.