A arte de Mozart Guerra evoca saberes ancestrais e inspira reflexões sobre a relação predatória do homem com a natureza
Notório por suas figuras impactantes e esculturas que impressionam pelo realismo de povos originários e animais expostos como troféus de caça, o artista pernambucano radicado em Paris imprime em escala real as fortes cores da devastação natural e humana
Mozart Guerra nasceu em 1962 em Recife, onde, em 1986, se graduou em Arquitetura na Universidade Federal de Pernambuco. Também na segunda metade dos anos 1980, utilizando seu conhecimento de espaço e volumes, participou da criação de um grande número de cenários para teatro, carnaval, televisão e cinema. Ao mesmo tempo, dedicou-se à paixão pela escultura, inspirando-se nas técnicas e materiais utilizados nos ateliês de decoração, criando obras à base de poliestireno, resina e espuma expandida, materiais aos quais se manteve fiel ao longo das próximas décadas.
Radicado em Paris em 1992, passou a se dedicar plenamente à escultura, tendo como elemento de maior evidência em suas criações artísticas a influência indissociável de suas origens brasileiras. Marca registrada de suas criações, a arte popular produzida por Mozart com materiais simples revela um imaginário lúdico, diverso e irreverente em esculturas que habitam um mundo fantástico e utópico habitado por seres humanos e animais que se tornam protagonistas em contraponto à exclusão, extinção, barbárie ou à indiferença humana.
Seus personagens e bichos, frequentemente confrontados com situações de perigo, enfrentam sempre a realidade com escárnio sobre essa relação ambígua que o ser humano exerce com a natureza. Ao mesmo tempo em que a admira, ele a destrói. Os animais, aliás, ocupam um espaço de destaque no compêndio da obra de Mozart Guerra. Fragilidade e força dialogam num vínculo profundo, ancestral e contraditório.
As origens brasileiras do artista pernambucano ficam evidentes, sobretudo, quando ele retrata os povos indígenas da Amazônia. Mozart evoca a referência de Claude Levi-Strauss, que definiu os povos originários do Brasil como “resquícios de uma civilização”. Para além da representação regional, essa civilização indígena encarna um sujeito universal. Suas cabeças expostas como troféus de caça, das figuras exóticas às feras selvagens, remetem à violência gritante e mascarada que vem desde as chamadas missões até os dias atuais com todo o processo de invasão de reservas ambientais e minerais.
Para além de sua terra natal, Mozart também recebe muita inspiração do Japão, país que visitou várias vezes e que continua a lhe surpreender. As gueixas de Kyoto tiveram um impacto particular sobre ele: “É tão estranho e fascinante ver como a exuberância visual pode ser combinada com o silêncio no espaço público”. Este paradoxo inspirou esculturas com múltiplas variações desses personagens enigmáticos que representam a substância de uma arcaica condição feminina no Japão.
Ao utilizar materiais como poliestireno e espuma de poliuretano como suporte de suas esculturas, Mozart ainda recorre a alfinetes, corda, papel e arame, com obras sempre impactantes por sua aparência real e por suas dimensões sempre colocadas em uma escala original, optando por formas realistas revestidas com grafismos fantasiosos.
“Realizo um trabalho inevitavelmente contemporâneo quando dou uma forma de expressão a matérias criadas para outras finalidades. Não se trata de um trabalho de reciclagem, mas de, como se diz em francês, do détournement (desvio) do material,” diz Mozart.
“Minha obra convoca a uma reflexão sobre a relação entre o homem e a natureza, bem como coloca no centro da discussão o legado de civilizações outrora chamadas de ‘primitivas’ mas que, na verdade, são detentoras de um conhecimento que agrega um equilíbrio imenso entre força e fragilidade, além de um respeito e uma convivência inteligente e sagaz com a fauna e a flora”, finaliza o artista.
As obras de Mozart Guerra são elaboradas e executadas em seu ateliê, que fica situado em uma antiga fábrica chamada Ateliers La Fabrique d’Ivry, onde se encontram outros 70 espaços de artistas, como pintores, fotógrafos e escultores. Nesse local que mais parece uma pequena galeria de arte Mozart recebe colecionadores, curadores e marchands, sempre com hora marcada.
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Exposições
Mozart começou a expor ainda sem representação de galerias em feiras de arte que divulgavam artistas de forma independente em Paris, como a Marché d'Art Contemporain de la Bastille e MAC 2000 – nesta última recebeu o Prix du Publique. Posteriormente começou a trabalhar com galerias sediadas em países como França, Luxemburgo, Itália, Portugal, Estados Unidos, Canadá, Holanda, Áustria, Suíça, Espanha e Costa-Rica. Atualmente, colabora com as seguintes galerias: Galerie Sol (Saint-Tropez, França); Galerie Schortgen (Luxemburgo, Luxemborgo); Galerie Artmundi (Paris, França); Tilsitt Gallery (Porto, Portugal); e Chic Evolution in Art Gallery (Fort Lauderdale, Estados Unidos).
Mozart também contabiliza participações em algumas das mais renomadas feiras de arte, como SCOPE Art Show Basel, na Suíça, Art Paris, no Grand Palais, e Art Élysées, no Champs- Elysées. Em 2007, representou o Brasil na exposição Latitudes Terres d'Amazonie, que aconteceu no Hotel de Ville de Paris. O artista também mantém parceria, há 10 anos, com o renomado designer japonês Yasumichi Morita, realizando trabalhos em metrópoles como Tokyo, Osaka, Catar, Hong Kong e Las Vegas. Em novembro de 2012, Mozart Guerra recebeu o prêmio Coup de Coeur du Jury do Salon National des Artistes Animaliers, na França.
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