A obra de Anna Maria Maiolino (Scalea, Calábria, Itália, 1942) é informada por tensões frente a diferentes realidades sociais, culturais e políticas.
Em diálogo com o eixo curatorial do MASP deste ano, em torno das Histórias das mulheres, histórias feministas, apresentamos uma retrospectiva de filmes e vídeos produzidos pela artista entre as décadas de 1970 e os anos 2000. Nesses trabalhos, feitos em super-8 e formato digital, Maiolino assimila técnicas do cinema (como a edição por montagem manual, a fotografia, a trilha sonora), frequentemente por meio de narrativas não-lineares (sem o ordenamento tradicional de começo, meio e fim), para tratar de temas como a migração e o feminismo, com uma visão reflexiva sobre o corpo e a vida cotidiana.
Na década de 1950, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Maiolino migrou com sua família da Itália para Venezuela; em 1960, mudou-se para o Rio de Janeiro. Assim, a artista vivenciou tanto os efeitos da guerra na Europa quanto da ditadura militar no Brasil (1964-1985). Sua produção inovadora é atravessada por esses acontecimentos e marcada pela tentativa de expandir os campos de sua criação artística, trabalhando com diferentes suportes, como fotografia, pintura, escultura, gravura, performance e vídeo.
Nesta sala, nove vídeos são apresentados em três telas: duas laterais com filmes dos anos 1970-1980, e uma tela central, com vídeos dos anos 2000, projetados de forma não cronológica. In-Out (Antropofagia) (1973/1974), X (1974), Y (1974), Um dia (1976/2015), + - = - (mais menos: igual a menos), (1976) e Ad Hoc (1982/2000) são filmes realizados em película Super-8. Muitas das imagens evocam a operacionalização da violência sobre os corpos, censurados e torturados durante a ditadura brasileira, assim como os limites entre as expressões do silêncio, do trauma, da dor, do grito e do som de palavras quase inaudíveis—é o caso das bocas tapadas em In-Out (Antropofagia), ou dos gestos tensos das mãos em Ad Hoc. A produção mais recente da artista reitera memórias de um passado ainda latente e obscuro relacionado à migração—como em Um tempo (uma vez) (2009/2012), 09, da série LOG (Apresentações) (2013) e Aos quatro ventos (2001/2011).
O MASP possui uma de suas obras mais icônicas, O herói (1966/2000), em exposição no Acervo em transformação no segundo andar do museu.
CURADORIA Horrana de Kássia Santoz, assistente curatorial, MASP
Ao longo de 2019, os vídeos aqui apresentados integram o ciclo de Histórias das mulheres, histórias feministas do MASP. O programa destaca a produção de mulheres artistas, de diferentes nacionalidades, gerações e origens, com o objetivo de promover discussões sobre feminismos e a representatividade no campo das artes.