RIO — As duas mostras que marcam a inauguração da Casa Roberto Marinho foram pensadas para simbolizar um marco na história tanto da coleção quanto do imóvel. “Modernos 10 — Destaques da Coleção” reúne telas e desenhos de dez dos artistas mais bem representados no acervo reunido ao longo de seis décadas pelo jornalista: Pancetti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcante, Ismael Nery, Guignard, Djanira, Milton Dacosta, Lasar Segall, Portinari e Burle Marx.
Há preciosidades como o “Kaddish”, de Segall, uma das últimas aquisições, já na década de 1990. E “O touro” (1925), de Tarsila, obra que chegou a ser pedida pelo MoMA para a grande mostra sobre a artista brasileira em cartaz no museu nova-iorquino (e não emprestada por causa da inauguração da Casa). Também está na exposição “Boneco” (1939), de Pancetti, que era uma das obras preferidas do colecionador. Há ainda uma impressionante série de desenhos de Ismael Nery dos anos 1930, com doses de nudez e erotismo, questões pouco abordadas na arte brasileira do período.
— Essa mostra sinaliza o diálogo entre o moderno e o contemporâneo, que vai ser permanente, comemorando a inauguração da Casa Roberto Marinho — diz Cavalcanti. — Chamamos artistas que, tradicionalmente, nas suas linguagens, abordam esse tema, e pedimos que o usassem do modo mais pessoal que quisessem.
As mostras ficam em cartaz até 30 de setembro. Em outubro, será inaugurada “Oito décadas de abstração informal”, com curadoria de Cavalcanti e Felipe Chaimovich, uma parceria com o Museu de Arte Moderna de São Paulo — primeira de muitas que o diretor da instituição carioca pretende promover. No museu paulistano, onde fica em cartaz até domingo, a mostra que reuniu os acervos das duas instituições foi vista por uma média de 900 visitantes diários.
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Número de obras: São 1.473 cadastradas, entre pinturas, esculturas, gravuras e desenhos, com foco no modernismo e na abstração informal brasileiros.
A Primeira. Não há dados precisos, mas o início da coleção se deu, provavelmente, com um Pancetti, no fim dos anos 1930. O ateliê do artista ficava na Rua de Santana, no Centro do Rio, de fundos para o pátio do jornal O GLOBO — a pintura “Paisagem”, 1939, na exposição, mostra isso.
A Última. Novamente, não há um dado preciso. Foram compradas na segunda metade dos anos 1990, entre elas “Kaddish” (1917-18), de Segall, e “En vue de Saint-Jeannet” (1972), de Marc Chagall.
Artista com mais obras. Ismael Nery, com 72 (duas pinturas e 70 desenhos), Pancetti, com 29 pinturas, e Di Cavalcanti, com 21 pinturas, dois desenhos e cinco gravuras.
Artistas contemporâneos. Há obras de Jorginho Guinle e Antonio Dias.
Quem falta. Segundo Joel Coelho, há 30 anos coordenador da Coleção Roberto Marinho, o colecionador era grande admirador de Henry Moore, e se ressentia de não te r comprado uma obra do escultor inglês quando este participou da II Bienal de São Paulo, em 1953.
Estrangeiros. Há vários, como Vieira da Silva, De Chirico, Chagall, Fernand Leger e Pierre Soulages.