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Jean Michel Basquiat quem e - Guia das Artes
Jean Michel Basquiat
Informações
Nome:
Jean Michel Basquiat
Nasceu:
Brooklyn - Nova Iorque - EUA (22/12/1960)
Faleceu:
NoHo - Nova Iorque - EUA (12/08/1988)
Biografia

O jovem pintor afro-americano era filho de Gerard Jean-Baptiste Basquiat, ex-ministro do interior do Haiti que se tornou proprietário de grande escritório de contabilidade ao imigrar para os Estados Unidos e de Mathilde Andrada, de origem portorriquenha. Era o primeiro, dos três filhos do casal, de classe média alta.

O menino Jean-Michel, como toda criança, aos três anos já desenhava caricaturas e reproduzia personagens dos desenhos animados da televisão. Mas seu gosto pela arte se tornou coisa séria e um dos seus programas favoritas era, já aos seis anos, freqüentar o MOMA, Museu de Arte Moderna, de onde tinha carteira de sócio-mirim.

Uma tragédia o colocou ainda mais próximo da arte, quando aos sete anos foi atropelado e no acidente teve o baço dilacerado. Foi submetido a uma cirurgia e ficou uma temporada no hospital. Sua mãe, então lhe deu de presente um livro de anatomia, Gray's Anatomy, que teria grande influência em seu futuro de artista, revelado pelas pinturas de corpos humanos e detalhes de anatomia e até no nome da banda musical de curta duração que fundou em 1979: Gray's, que assumia as influências dos ventos latinos, vindos do Caribe e Porto Rico, que sopravam sobre a cena artística de Nova York, como o hip hop, o break e o rap.

Com o divórcio dos pais, muda com o pai e as irmãs para Porto Rico e lá vivem de 1974 a 1976. Basquiat toma contato com suas origens latinas. Aos 17 anos está de volta a Nova York e não consegue se adaptar às escolas convencionais. Passa a freqüentar a Edward R. Murrow High School mas a abandona praticamente no final do curso, sai de casa, vai morar com amigos, e passa a pintar camisetas que ele mesmo vende nas ruas.

Com o artista gráfico Al Diaz cria a SAMO (same old shit - mesma velha merda), marca e assinatura que usava para espalhar as suas obras pelas paredes da cidade. Passa a viver nas ruas e a grafitar paredes, portas de casas e metrôs de Nova York.

Aos poucos torna-se uma celebridade, começa a aparecer num programa da TV a cabo e é convidado a participar do filme Downtown 81, investindo o dinheiro que ganhou em materiais de pintura. O filme relata um dia na vida do jovem artista à procura da sobrevivência e mistura hip hop, new wave e graffiti, manifestações artísticas típicas do início da década de 80.

Mudança de rumo

Com a fama adquirida passa a ter dinheiro, torna-se artista internacional de vanguarda e amigo de pessoas influentes, conhecendo e convivendo com Andy Warhol, com quem compartilhou forte amizade. Warhol proporcionou a ele lugar para morar, materiais para trabalhar, além de ajudar a divulgar o seu trabalho e patrocinar algumas excentricidades, típicas de endinheirados. Nessa época Basquiat abandonou a arte de rua e o graffiti e decreta nas paredes: "SAMO morreu".

Começa a pintar telas que passam a ser adquiridas e comercializadas por marchands de Zurique, Nova York, Tóquio e Los Angeles, ávidos por novidades. De artista que vivia precariamente passa a ser um artista consumido e recebido nos salões mais chiques e exclusivos de Nova York.

A arte de Basquiat, chamada de "primitivismo intelectualizado", uma tendência neo-expressionista, retrata personagens esqueléticos, rostos apavorados, rostos mascarados, carros, edifícios, policiais, ícones negros da música e do boxe, cenas da vida urbana, além de colagens, junto a pinceladas nervosas, rabiscos, escritas indecifráveis, sempre em cores fortes e em telas grandes. Quase sempre o elemento negro está retratado, em meio ao caos. Há também uma dessacralização de ícones da história da arte, como a sua Mona Lisa (acrílico e óleo sobre tela) que é uma figura monstruosa riscada no suporte.

O período mais criativo da curta vida e da carreira meteórica de Basquiat situa-se entre 1982-1985, e coincide com a amizade com Warhol, época em que faz colagens e quadros com mensagens escritas, que lembram o graffiti do início e que remetem às suas raízes africanas. É também o período em que começa a participar de grandes exposições.

Em 1982, com a mostra Anatomy, foi o mais jovem artista da famosa exposição Dokumenta, de Kessel. E, em 1983, o mais jovem artista da Bienal do Whitney Museum, de Nova York. Daí em diante, participa de centenas de exposições e passa a ter trabalhos espalhados por vários dos museus mais importantes do mundo, como: Osaka City Museum of Modern Art, Japão; Chicago Art Institute, Illinois, Estados Unidos; Everson Museum of Art, Syracuse, Nova York, Estados Unidos; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, Estados Unidos; Kestner-Gesellschaft, Hannover, Alemanha; Museum Boymans-van Beuningen, Roterdã, Holanda; Museum of Contemporary Art, Chicago, Estados Unidos; Museum of Contemporary Art, Los Angeles, Estados Unidos; Museum of Modern Art, Nova York, Estados Unidos; Museum of Fine Arts, Montreal, Canadá; Whitney Museum of American Art, Nova York, Estados Unidos.

A morte do amigo e protetor Andy Warhol, em 1987, deixa Basquiat abalado e debilitado e isso se reflete na sua criação. Os críticos, sempre muito exigentes, já não o tratam com unanimidade e Basquiat responde a essas cobranças, associando-a ao racismo arraigado da sociedade americana.

Solitário, exagera no consumo de drogas e em agosto de 1988 acontece a trágica morte por overdose de heroína, que põe fim à carreira brilhante do primeiro afro-americano a ter acesso à fechada cena das artes plásticas novaiorquinas e, a partir daí, presença nas mais importantes mostras do mundo, entre elas, uma sala especial, em 1996, na 23ª Bienal de São Paulo, e em 1998, uma retrospectiva na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

 

Principais Obras:

 

1.Ironia do Policial Negro (1981)

Uma das obras mais famosas de Basquiat, Ironia do Policial Negro carrega mensagens sociais evidentes. Aqui, não existe um recado sutil nem uma insinuação: o pintor tece duras críticas às práticas racistas que vigoravam (e ainda vigoram) nos Estados Unidos.

Negro e filho de imigrantes, ele não tinha medo de "meter o dedo na ferida" e confrontar a sociedade norte-americana com suas falhas e preconceitos.

O quadro em análise, que combina grafite e pintura expressionista, apresenta um indivíduo no centro. O seu chapéu, que se assemelha a uma gaiola, o identifica como um agente da Polícia.

Nos Estados Unidos da América, como em outros países, as forças policiais são conhecidas pela sua brutalidade, sobretudo com os cidadãos negros. A dualidade de padrões e a violência da autoridade têm sido denunciadas em massa nas últimos anos com o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).

No começo da década de 80, Basquiat já estava alertando para estas questões, se perguntando por quê um homem negro se juntaria a uma polícia racista.

A profissão, neste caso, é vista como uma outra forma de domínio e opressão. Isso fica explícito com a palavra "pawn" (peão, alguém que é manipulado) no canto inferior direito.

 

2. Pássaro no Dinheiro (1981)

A obra de Jean-Michel Basquiat é atravessada por elementos da cultura afroamericana e personalidades do movimento dos direitos civis.

Pássaro no Dinheiro é uma homenagem ao músico Charlie Parker, um dos seus ídolos. O saxofonista e compositor de jazz, que era conhecido como yardbird (pássaro), está representado como uma ave.

No quadro, há a representação de um cemitério e as palavras "Para Morir" (morrer). Parker, assim como Basquiat, levou uma vida curta, marcada pelo sucesso e pelo consumo de álcool e drogas.

Há, claramente, uma identificação entre as histórias de ambos, algo que é confirmado pela placa que diz "Green Wood" , à esquerda. Este trata-se do local onde o pintor cresceu e veio a ser sepultado.

Apaixonado por música, Jean-Michel chegou mesmo a ter uma banda com o diretor Vincent Gallo. Pensa-se que a forma como as imagens estão organizadas no quadro pretendia representar o próprio som do jazz.

 

3. Sem título (Caveira) (1981)


Basquiat fez várias representações de caveiras e crânios humanos, entre as quais esta se destaca. Durante a infância, o artista foi atropelado e quebrou o baço, o que levou a uma operação.

Durante o tempo de recuperação, ele ganhou um livro de anatomia que despertou o seu interesse pelos desenhos detalhados do corpo humano.

Na pintura, o rosto parece ser feito de retalhos, partes que não combinam umas com as outras, quase como se fossem montadas ao acaso.

Há também a representação do interior e do exterior do crânio, unidos por pontos, como se estivessem costurados um ao outro. A imagem também pode remeter para o mapa do metrô de Nova York.

O quadro combina as heranças culturais haitianas e porto-riquenhas do artista com o cárater urbano da sua obra (o rosto lembra os autorretratos de grafiteiros anônimos).

O seu significado continua sendo um mistério: as letras no topo parecem em código, rabiscos que não conseguimos decifrar. É evidente, no entanto, que apesar das cores vivas, existe uma carga disfórica e perturbadora.

 

4. Pescaria (1981)


Pescaria é umas das obras de grafite mais populares de Basquiat, onde fica evidente o estilo neo-expressionista do pintor. Notemos a energia, as cores vivas, as pinceladas rápidas e a figura de grandes dimensões.

No centro, está um homem com espinhos em volta da cabeça, que carrega uma cana nas costas e segura um peixe pela linha. Os traços brancos mostram ainda o seu esqueleto, o interior do seu corpo.

Nesta fase da sua produção artística, a influência da street art ainda está muito presente. O quadro foi pintado na época em que Basquiat tinha acabado de trocar os prédios abandonados pelas telas.

 

5. Deus, Lei (1981)


Embora este seja um desenho a lápis numa folha de papel, não se trata de um esboço: é a obra em si. Com claras influências do grafite e da arte de rua, Basquiat questiona os conceitos tradicionais de pintura e o próprio mundo das "belas artes".

Estamos perante mais uma criação através da qual o artista denuncia as desigualdades sociais, a injustiça e a pobreza. Ainda durante a adolescência, o pintor integrou a dupla de grafite SAMO, com o amigo Al Diaz.

O tag significava "same old shit" (sempre a mesma merda) e era usado para espalhar mensagens de rebeldia e indignação pela cidade. Este caráter subversivo continuou presente ao longo da sua obra e é evidente no quadro em análise.

Altamente simbólico, ele retrata uma balança, imagem universalmente associada à justiça. Em baixo de cada um dos pratos, estão escritas as palavras "Deus" e "Lei" .

No centro, e acima de ambos, está um cifrão, símbolo amplamente ligado ao dinheiro. A posição de destaque não é por acaso: o pintor quer mostrar a corrupção e a ganância que imperam. Deste modo, sublinha que aquilo que move o mundo é o dinheiro, influenciando até nossas noções de lei e religião.

 

6. Coroas (Peso Líquido) (1981)


Quem conhece um pouco da obra de Basquiat sabe que a coroa de três pontas é um elemento que se repete incontáveis vezes.

Normalmente lida como um símbolo de poder e riqueza, ligada à realeza branca, ela ganha outra conotação nas suas pinturas. Neste contexto, pode ser entendida como um sinal de autoridade ou valor artístico.

O quadro apresenta várias cabeças coroadas que parecem estar dentro de uma pilha de caixas. Uma delas, contudo, carrega uma coroa de espinhos, numa referência a Cristo, que remete para a ideia de sacrifício.

As flechas espalhadas pela tela, em diversas direções, representam Oxóssi (Òsóòsì), uma divindade da religião iorubá que governava a caça. Esta parece ser uma metáfora para a busca incessante de Basquiat pelo sucesso.

"Peso líquido" é algo que costuma ser anunciado nos produtos, determinando a relação entre a quantidade e o valor monetário de alguma coisa. Em Coroas, o subtítulo confirma que esta obra é um comentário sobre a vida e, sobretudo, a arte.

Na sua visão, é preciso sofrer e se sacrificar para alcançar a fama. Aqui, parece haver uma reflexão do artista, sobre seu próprio trabalho e percurso. Fica patente a impressão de que está "se vendendo", que virou uma mercadoria também.

 

7. Sem título (Boxeador) (1982)


O box é um tema que surge várias vezes na obra do artista, sendo retratado na famosa sessão fotográfica que Basquiat fez com Andy Warhol.

Em Sem título (Boxeador), vemos um homem grande e musculoso, cujo corpo ocupa quase toda a tela. A sua força física é inegável, com os músculos sublinhados por linhas brancas.

Os braços no alto sugerem comemoração, vitória. Contudo, a coroa de espinhos na cabeça remete para a ideia de sofrimento, confirmada por uma cara quase desfigurada.

É possível que Basquiat se identificasse com esta figura. Afroamericano, filho de imigrantes e parte da classe trabalhadora, o artista batalhou muito para conquistar tudo o que teve.

Por isso, talvez se visse como um boxeador, disposto a levar pancadas da vida para ter sucesso. No box, apesar do racismo da época, reinavam homens negros como Joe Louis e Muhammad Ali, ídolos do pintor.

Assim, os punhos fechados e erguidos no ar também podem ser uma referência ao movimento civil que reclamava o empoderamento negro.

 

8. Cabeza (1982)


Em Cabeza, temos de novo o interesse de Basquiat pela anatomia humana, que se traduziu em muitos desenhos de corpos e crânios. A obra tem 1,69m de altura, a estatura de um homem comum, dando a sensação que se trata de um indivíduo real.

Assume-se que é um auto-retrato, algo que parece ser confirmado pelos cabelos com tranças penteadas para o lado, como o artista costumava usar.

O rosto, dividido no meio, traduz emoções contrastantes: de um lado, parece sorrir e de outro, carrega uma expressão de tristeza. São também evidentes as heranças culturais africanas que se manifestavam na obra do artista.

 

9. Dispensador de Pez (1984)


As pinturas de Basquiat são, muitas vezes, reflexos da cultura popular em que vivia. Nesta obra, como em outras, o artista apresenta um tema do cotidiano, algo que o público conhecia bem. Trata-se de uma referência aos doces Pez, uma marca muito popular nos Estados Unidos.

Parte do seu sucesso se devia às embalagens de plástico (dispensadores) com formas de bichos e personagens de filmes de animação, nas quais eram vendidos. A imagem atraente cativava crianças e adultos, aumentando as vendas da marca.

Aqui, a embalagem tem a forma de um dinossauro, animal extinto que apenas continua existindo na nossa imaginação. A criatura usa uma coroa, que pode ser interpretada como um símbolo subversivo para a luta de classes e a pobreza.

Deste modo, podemos pensar que se trata de uma critica à sociedade de consumo, associada à opressão financeira das classes mais desfavorecidas.

 

10. Cavalgando com a Morte (1988)


Cavalgando com a Morte integrou a última exposição do pintor, que veio a falecer no mesmo ano.

Já longe da energia explosiva e das cores vibrantes do passado, o quadro tem apenas um fundo neutro onde se destacam duas figuras.

O tema da morte é representado numa época em que Basquiat levava um estilo de vida particularmente destrutivo, por causa do consumo de cocaína e heroína.

Quase profético, o artista realmente estava caminhando para o final e acabou morrendo de overdose. A obra mostra que mesmo sem salvação, ele mantinha a consciência do que estava vivendo.

Na pintura, é também notória a influência dos grandes mestres, sobretudo Duas Alegorias da Inveja, de Leonardo da Vinci.

 

Principais Obras
  • Ironia do Policial Negro (1981)
  • Pássaro no Dinheiro (1981)
  • Sem título (Caveira) (1981)
  • Pescaria (1981)
  • Deus, Lei (1981)
  • Coroas (Peso Líquido) (1981)
  • Sem título (Boxeador) (1982)
  • Cabeza (1982)
  • Dispensador de Pez (1984)
  • Cavalgando com a Morte (1988)
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