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Pará
inserido em 2025-10-03 19:44:16
Estudante de história e redator do Guia das Artes.
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Em Estado de Arte: Pará

Ao longo da vasta e fascinante história da arte brasileira, embarcaremos juntos em uma jornada rica, profunda e repleta de descobertas. Será uma verdadeira expedição cultural, um mergulho atento e detalhado nas inúmeras manifestações artísticas que floresceram — e ainda florescem — nos quatro cantos deste imenso e diverso país chamado Brasil.

Nosso percurso será meticuloso e revelador: exploraremos os principais movimentos artísticos de cada estado da federação, analisando suas origens, características, influências, transformações e impactos ao longo do tempo. Vamos olhar com carinho e atenção para a trajetória da arte em cada região, respeitando suas particularidades históricas, culturais e sociais, e compreendendo como cada uma contribuiu de forma singular para a formação do panorama artístico nacional. Bem vindos mais uma vez a Em Estado de Arte: Pará

Por Paulo Lorenzo Villela

Entre rios e cores: o Pará como território artístico

O Pará, situado na Região Norte, é o segundo maior estado do Brasil. Recebendo seu nome do rio Pará — do tupi pa’ra (literalmente “rio-mar”) —, sua cultura e arte são moldadas pela profunda influência dos povos ameríndios originários da região e dos colonizadores europeus, sobretudo portugueses e espanhóis.

Dentro desse território exuberante, desenvolveram-se duas grandes vertentes artísticas: uma em tempos modernos e outra em um passado remoto, anterior à chegada dos europeus ao continente americano.

Arte Marajoara: a herança ancestral da cerâmica amazônica

A Ilha de Marajó — chamada de Marinatambal pelos povos nativos e de Ilha Grande de Joannes pelos colonizadores — é a maior ilha fluvial do planeta, formada pelo delta do rio Amazonas. Seu solo, composto majoritariamente de argila que não retém oxigênio, permite um ecossistema peculiar, dominado por manguezais e florestas esparsas.

Essa abundância de argila viabilizou uma das expressões culturais mais complexas e sofisticadas da América do Sul pré-colombiana: a Cerâmica Marajoara. Produzida entre os anos 400 e 1400 d.C., foi redescoberta apenas em 1871 por Charles Frederick Hartt e Domingos Soares Ferreira Penna, considerados fundadores da arqueologia brasileira.

Com grafismos geométricos, representações humanas e zoomorfas, e uma forte ligação com práticas funerárias e espirituais, a arte marajoara revelou uma civilização avançada que desafiou a visão eurocêntrica sobre os povos ameríndios. Sua importância é tamanha que a cultura Marajoara hoje representa um dos pilares da arqueologia brasileira e da arte pré-cabralina (antes de 1500 da era comum) no país.

O Pará moderno: nomes que atravessaram fronteiras

Durante o período moderno — da segunda metade do século XIX até meados do século XX — o Pará foi berço de artistas fundamentais para o cenário artístico nacional.

Ismael Nery, nascido em Belém em 1900, é um dos grandes nomes desse período. Influenciado pelo expressionismo e pelo surrealismo, sua obra mergulha em temas como espiritualidade, erotismo, misticismo e identidade. Nery figura entre os artistas mais importantes da vanguarda brasileira.

Outro nome é Waldemar da Costa, também natural do Pará, que atuou como pintor, cenógrafo e ilustrador. Suas obras traduzem a paisagem amazônica com uma estética moderna e um olhar ao mesmo tempo técnico e poético.

Arte contemporânea: tradição e ruptura de mãos dadas

O Pará contemporâneo é palco de uma produção artística pulsante, que mistura denúncia social, mitologia regional e experimentação estética. Um dos principais nomes é Marinaldo Santos, artista visual conhecido por suas obras que combinam pintura, desenho e instalação com símbolos indígenas e visões amazônicas.

Também se destaca Berna Reale, cuja produção performática lida com violência urbana, poder e exclusão. Suas obras são impactantes e provocativas, reconhecidas em bienais internacionais e instituições de prestígio.

Artistas como Armando Sobral, com uma abordagem crítica, e espaços culturais como a Galeria Theodoro Braga e o Espaço Cultural Casa das Artes vêm fomentando o cenário artístico local desde os anos 1990, aproximando criadores e comunidade por meio de exposições, oficinas e residências.

Movimentos culturais vivos: da arte popular ao tecnobrega

A arte paraense não vive apenas nos museus - ela pulsa nas ruas, nos rituais e nas festas. O Círio de Nazaré, além de sua dimensão religiosa, é um espetáculo visual: procissões, indumentárias, arte sacra, esculturas e músicas se fundem numa celebração coletiva da fé e da cultura.

Outros elementos da arte popular incluem os brinquedos de miriti, as pinturas corporais indígenas, os ex-votos e os grafismos quilombolas. Essas manifestações, muitas vezes vistas como periféricas, carregam profundo valor simbólico e sofisticação técnica.

Já o Tecnobrega, embora essencialmente musical, criou um ecossistema visual próprio - com figurinos exuberantes, estética futurista e um senso de espetáculo que transforma periferias urbanas em polos culturais.

Encerramento: a força criativa do Pará

No Pará, a arte brota dos rios, das ruas e das tradições. É memória e criação, misturando passado e futuro com identidade única. Encerrar nossa jornada aqui é lembrar que a arte brasileira nasce e renasce na Amazônia. E nossa expedição cultural está apenas começando.

Referências

MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI (Brasil - Pará). Acervo e publicações sobre arqueologia amazônica. Disponível em: www.museu-goeldi.br. Acesso em: 30 jun. 2025.

MUSEU NACIONAL (Brasil - Rio de Janeiro). UFRJ. Cultura Marajoara. Disponível em: https://www.museunacional.ufrj.br/dir/exposicoes/arqueologia/arqueologia-brasileira/marajoara.html. Acesso em: 30 jun. 2025.

LAART (Brasil). Arte Marajoara: as características das obras e a história dessa civilização que ocupou o Brasil. 2020. Disponível em: https://laart.art.br/blog/arte-marajoara. Acesso em: 30 jun. 2025.

MUSEU DO MARAJÓ (Brasil - Pará). Museu do Marajó. Disponível em: https://museus.pa.gov.br/museus/163/museu-do-maraj. Acesso em: 30 jun. 2025.

ANCIENT AMERICAS. MARAJOARA Culture: How to thrive in the Amazon. [S.I], 2021. (31 min.), son., color. Legendado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XTM2D_gYOqc. Acesso em: 30 jun. 2025.

ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL (Brasil). Verbetes sobre Ismael Nery, Waldemar da Costa e arte brasileira moderna. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br. Acesso em: 30 jul. 2025.

GUGGENHEIM NEW YORK (EUA - Nova Iorque). Brazil: Body & Soul. Exposição sobre arte e identidade no Brasil. Disponível em: https://www.guggenheim.org/exhibition/brazil-body-soul. Acesso em: 30 jul. 2025.

PRADO, Débora. Tecno-brega: estética e indústria cultural em Belém do Pará. Revista Gênero e Número. Disponível em: https://www.generonumero.media/tecno-brega/. Acesso em: 30 jun. 2025.

SILVA, Rosângela B. da. Brinquedos de miriti e tradição popular paraense. UFPA, 2015. Acesso em: 30 jun. 2025.

OLIVEIRA, Luciana. Performance e resistência na arte amazônica contemporânea. Revista Arte & Ensaios, UFRJ, 2019. Acesso em: 30 jun. 2025.

UNESCO (Internacional). Círio de Nazaré como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Disponível em: https://ich.unesco.org. Acesso em: 30 jun. 2025.

 

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