Algumas notas sobre os quadros de Beto Borges
Arnaldo Antunes
1. Pedaços de infinito, que poderiam continuar sendo feitos eternamente. De onde não param de emergir novas formas (porque se transformam o tempo todo) ao olhar.
2. Fusão de fundo e figuras, em uma mesma massa amorfa de onde eclodem sugestões de imagens, vultos.
3. O olhar fica estroboscópico, sem conseguir fixar um ponto, sempre mudando o foco de atenção.
4. Casas, bichos, folhas, riscos, letras, signos, nada é uma coisa só. Tudo tende a se desfazer na forma ao lado, como mercúrio se multiplicando em muitas partes, que se aglutinam novamente quando se encostam. Superfícies em ebulição.
5. Um círculo será sempre um olho da forma que o cerca. Milhões de olhos sem mira.
6. Às vezes as formas parecem hieróglifos, pequenos símbolos, sinais. Escrituras de decifração impossível.
7. Bordados, brocados. A repetição obsessiva de um mesmo procedimento, como método de composição. Vitrais, ladrilhos, mosaicos.
8. Vários quadros parecem visões de cima, como se fossem mapas, ou fotos aéreas da cidade, estudos topográficos, formigueiros, gramados. Alguns parecem mostrar formas com relevos, oferecendo visões prismáticas, de muitos ângulos ao mesmo tempo.
9. Beto tem o olho escolado na produção gráfica, na diagramação e direção de arte de jornais, revistas e cartazes. Daí talvez o apuro, a minúcia, o detalhamento. Volutas das capitulares. Talvez sua pintura seja fruto daquele “o que fazer com as mãos?” que resultou quando a montagem dos pedaços de textos e imagens da página (paste-up) deixou de ser realizada materialmente com régua, esquadro, estilete e cola e passou para dentro da tela do computador. Ou talvez tenha apenas sentido falta do cheiro da cola de benzina…
10. Num tempo em que a produção e a multiplicação das imagens se torna cada vez mais avassaladoramente veloz, Beto Borges optou pelo artesanato vagaroso, gesto contido, tempo materializado. O devagar que permite o divagar.
11. Piscinas.
Texto de apresentação da exposição “Tramas”, Conjunto Cultural da Caixa, Brasília e São Paulo, em outubro de 2001.
Inicia na pintura incentivado por José Roberto Aguilar.
Estuda com Carlos Fajardo e Dudi Maia Rosa.
Nos 80s, edita as revistas de arte e poesia visual
“Almanak 80”, “Kataloki” e “Atlas”, com Arnaldo
Antunes e Nuno Ramos, entre outros.
Em 2003, é um dos fundadores da Cooperativa dos Artistas Visuais do Brasil.
Tem 64 anos, mora e trabalha em São Paulo.
Exposições individuais no Conjunto Cultural da
Caixa, em Brasília e São Paulo, e na Casa das Rosas,
SP. Selecionado para o 11º Salão Paulista de Arte
Contemporânea (MAC-USP), e para a 1ª Bienal Internacional
de Arte Contemporânea, Xapingo, México.
Exposições coletivas: “Atlas” - Museu de Arte de São
Paulo (MASP), Casa de Cultura Laura Alvim e Galeria
Paulo Klabin, Rio de Janeiro; “Artistas visitam o
Barão” - Museu da Imagem e do Som (MIS), SP; “Art
du Brésil”, Deauville, França; “Aberto - Paralelo à 26ª
Bienal de São Paulo” - Casa das Retortas, SP; “Dois
Estados - Dois Povos” - Sesc Pompéia, entre outras.