Nasceu em 1938, na cidade de Palestina, hoje Ibicaraí, ao sul da Bahia. E morava em Salvador desde 1944. Ângelo Roberto se considerava um "menino das linhas de bonde e linhas de arraia", como se fica sabendo na seguinte entrevista, que concedeu ao jornalista e crítico de artes visuais Reynivaldo Brito:
Ângelo Roberto Mascarenhas de Andrade, quem é o desenhista Ângelo Roberto?
É o menino das linhas de bonde e linhas de arraia. É um desenhista que só se resolve pela tela quando chega ao fim da linha.
E a ironia, Ângelo? Por que seus amigos mais próximos concordam com a afirmativa de que você vê a vida com profunda ironia e não perde nenhuma oportunidade para ironizá-la?
Meus amigos mais próximos são mais velhos do que eu. Eles é que me ensinam essa coisas.
E sendo você um homem de formação católica por que vê este mundo com olhos tão críticos?
Cristo é o primeiro a ver este mundo com olhos críticos.
Não são poucas as pessoas que o vêem como um eterno menino. Você jamais conseguiu libertar-se da infância assim como se a tivesse como uma espécie de refúgio, ou, ao contrário, sua infância o envolve, ainda hoje, como um cárcere do qual você não consegue romper as grades.
O passarinho que revisita o ninho pode crer tem autonomia de vôo.
E a adolescência? Em particular sua adolescência como ginasiano e participante de movimentos intelectuais na Província da Bahia? Até que ponto toda essa vivência interferiu em sua opção pela arte?
Já falei das linhas. Apenas joguei um barandão!
Como pai de cinco filhos e sendo apenas desenhista, como você consegue prover a sua e a subsistência da família? Dê ai a receita do milagre.
Sendo apenas desenhista, eu não seria pai de cinco filhos. Quanto ao milagre: pó de pirilimpimpim e sítio.
Porque a gente sabe que em muitos países o artista consegue, pelo menos, ser considerado como um verdadeiro profissional, enquanto que, no Brasil, salvo algumas exceções, o artista continua sendo marginal. Você se considera um margina, entendendo-se como marginal o cidadão que vive fora do sistema?
Um artista não é, necessariamente, um profissional. vice-versa. Sou um marginal. O sistema que espere!
Acho o cavalo o bicho mais bonito da Criação. Tem um movimento elegante, as linhas belíssimas. Sempre tive esses desenhos dentro de mim.
-- Ângelo Roberto, artista plástico
Ângelo Roberto considera-se um homem realizado, mesmo no plano apenas do indivíduo como indivíduo já que no plano do ser social sua ironia o define assim como uma espécie de rebelde?
Um homem realizado é uma besta. Sou um rebelde.
Você crê na vida, mesmo na vida vivida por várias camadas miseráveis de vastas regiões do mundo? Acredita que, apesar de tudo vale a pena viver tudo, inclusive o grotesco, o cruel, o belo e, também, o feio?
A universalidade cristão me leva a crer que o belo e o feio são a mesma coisa. Para quem tem olhos críticos.
Qual seu grande projeto de esperança?
Continuar vivendo entre os amigos mais próximos.
Veja-se o que dizia dele o também artista plástico Juarez Paraíso:
"Caracterizadas por primorosa elaboração, as criaturas de Ângelo Roberto são atributos de sua experiência como desenhista consagrado e de seu elevado senso de humor.
Observador da vida, perspicaz e de raciocínio rápido, Ângelo faz do riso uma arma construtiva, uma forma de refletir sobre o mundo. E
m seus desenhos a crítica social está sempre presente, mesmo nos momentos de pura poesia.
Seu interesse maior é a geografia humana da Bahia, a gente mais humilde, as crianças, as prostitutas, os mendigos, os vendedores, o homem simples em suas relações de sobrevivência no sistema político e social que lhe é imposto, injusto e opressor.
Ângelo Roberto é um dos mais expressivos e sensíveis intérpretes da cidade do Salvador e do povo da Bahia."
https://leiamaisba.com.br/2018/01/28/morre-em-salvador-artista-plastico-baiano-angelo-roberto