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Alessandra Duarte telas - Guia das Artes
Alessandra Duarte
Informações
Nome:
Alessandra Duarte
Sobre o artista


Biografia

Ficar fora ajuda a olhar para dentro. Nos 4 anos em que passou em Nova Iorque, estudando no Bard College, Alessandra Duarte desacostumou seus olhos do caos tropical misturado com cimento que define a paisagem de grandes cidades brasileiras: "minha faculdade era bem afastada da cidade, praticamente no meio do nada. Com isso, passei basicamente quatro anos morando dentro de uma floresta habitada. Voltar a São Paulo foi um choque enorme, uma vivência dentro do concreto. Essa diferença de ambientes e a junção dos dois ficaram na minha cabeça."


Interessantemente, nessa declaração a artista vincula a floresta aos Estados Unidos e o concreto ao Brasil, uma inversão dos estereótipos. E é a arquitetura modernista, aquela homenageada na exposição Brazil Builds, de 1943, no MoMA de Nova Iorque, que aparece como principal personagem das telas recentes de Alessandra Duarte. Nas pinturas da época do Bard College, o assunto principal é a figura humana, retorcida numa referência a Francis Bacon. Abaixo do Equador, a angústia baconiana é o aperto dos cipós coloridos recobrindo relíquias arquitetônicas do modernismo brasileiro.


No Brasil, a arquitetura moderna teve seu clímax durante uma ditadura, como parte de um projeto de consolidação da imagem do Brasil como nação industrializada. Foi sob os auspícios do Estado Novo que nomes como Oscar Niemeyer, Affonso Reidy e Lucio Costa sonharam as cidades e casas de uma sociedade nova, um desses paradoxos brasileiros tão surpreendentes quanto o prédio de concreto armado embrulhado pela selva, a integração dos azulejos azuis de Portinari – atados à tradição do barroco – aos 5 pontos de Le Corbusier em prédios como o do antigo Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, ou a ideologia comunista de Niemeyer convivendo com a ditadura getulista.


Embora respaldado por um governo reacionário, nem só de Brasília ou Pampulha viveram as utopias desenvolvimentistas dos anos 50. O Conjunto Pedregulho (1946-1952), no Rio de Janeiro, atesta a vontade dos arquitetos de construir moradias justas, integradas a escolas e centros de lazer e dar-lhes uma forma inovadora, estrutura nova para uma sociedade igualitária. A utopia social definhou em algum gabinete de um prédio modernista feito por candangos no cerrado. A forma da arquitetura modernista, no entanto, sobreviveu nos grandes centros urbanos majoritariamente em casas cujo luxo está justamente nas linhas limpas, grandes janelas de vidro, concreto aparente, integração do interior e exterior, com tudo do melhor do International Style. Nossos grandes arquitetos continuaram a seguir a cartilha da arquitetura moderna, mas desencantaram-se do sonho social. Daí a leitura que proponho, da angústia de um cipó amarrado na garganta do prédio, do esvaziamento da ideologia social que nasceu na fundação da arquitetura modernista brasileira, como a angústia da perda de um irmão gêmeo.


A figura humana ainda aparece nas telas de Alessandra Duarte, mas reduzida a uma miniatura, frágil, sem fibra – de fato, parecem bonequinhos desenhados com linhas em projetos arquitetônicos da época em que eram rascunhados à mão para sugerir a noção de escala, mas nas pinturas de Alessandra Duarte definem uma escala totalmente distorcida, com prédios gigantescos em comparação com os corpos. A fragilidade das figuras reforça ainda um lamento, um desencantamento.


O cenários são os jardins de casas luxuosas de arquitetura correta, aquele luxo de saber que bom gosto combina com modernidade. Esses habitantes ou espectros de habitantes de jardins que devem ter a grife Burle Marx não fazem mais festas, não servem coquetéis nos terraços, não se bronzeiam ao sol. Ao contrário, caminham solitários pelos imensos jardins, bóiam de bruços na água, como se tivessem desistido e se deixassem afogar, equilibram-se nas bordas de piscinas gigantescas. A grama atravessa seus minúsculos corpos como se fossem fantasmas, que voltam dos anos 1940 para examinar as ruínas do sonho da arquitetura modernista. Brazil built, keeps building e a nação consolidou-se, mantendo no entanto a separação drástica entre casa grande e senzala.


Paula Braga, 2011.


 https://www.zippergaleria.com.br/pt/artistas/alessandra-duarte/

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