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Sil Azevedo- Guia das Artes
Sil Azevedo
Informações
Nome:
Sil Azevedo
Sobre o artista

Técnica: Fotografia

Biografia

Comecei minha carreira como repórter fotográfico no Rio deJaneiro, embora a minha grande paixão fosse a fotografia decorativa. Em NovaYork, trabalhei para TV, com Direção e Produção de Programas de foco político equestões sociais, como imigração, LGBTQIA+, Direitos Humanos e violência contraa mulher. De volta ao Brasil trabalhei com produção, roteiro e direção decinema em produtoras independentes e, posteriormente, com produção de conteúdode web para a Rede Globo. Durante a pandemia, o isolamento obrigatório memotivou a retomar o sonho antigo de Fotografar a natureza, para torná-la umaparte permanente de nossas vidas, em forma de arte dentro de casa.

 Minha história com a fotografia sempre foi uma espécie de"amor platônico", desde menina eu ficava encantada cada vez que medeparava com um calendário na parede de alguém (essa era a única forma de"foto para decoração de interiores" possível em uma comunidade tãopobre quanto a que cresci!).

As imagens dos calendários eram sempre de lugares distantes,belas paisagens de montanhas geladas ou praias paradisíacas, (um sinal do usoda fotografia para nos transportarmos a lugares que nos deixam mais felizes).

 Além dos calendários, eu também era parada por imagens queencontrava pelo chão, ao longo do caminho (normalmente da escola) em revistasvelhas, panfleto de propaganda ou embalagens do “leite tipo C”, que traziadesenhos de vaquinhas e flores, as mesmas que muitas vezes faziam a decoraçãoem paredes de algumas cozinhas do bairro.

Diferentemente da maioria das crianças com quem eu conviviana época, meu interesse por aquelas fotografias não era apenas pela belezadelas, mas também pela curiosidade de saber como elas foram criadas.

 Por isso me vi várias vezes tentando “enquadrar” umapaisagem em lugares por onde eu passava, fosse entre galhos de árvore, espaçosvazados em armações de pontes, ou mesmo no perfeito formato retangular dajanela do trem de Japeri (para espanto dos outros passageiros).

 Mas toda essa paixão pela fotografia era algo muito fora daminha realidade, tanto que apesar de colecionar todas as fotos que euencontrava, até mesmo fotos de pessoas que eu nunca conheci (mas que ficavam avenda nos antiquários da rua do Lavradio no Rio de janeiro), eu comecei a minhavida profissional em trabalhos que as pessoas como eu, normalmentedesempenhavam, como atendente, doméstica, garçonete ou camelô, pois nunca haviapassado pela minha cabeça que eu pudesse vir a ser uma fotógrafa.

 Até que um dia em que eu estava numa sessão de terapia (queainda não era a minha), a psicóloga me perguntou o que eu fazia nos meus diasde folga, eu, no auge do meu entusiasmo de 20 anos, aproveitei para contartodas as exposições de fotografia que eu visitei na cidade, e o que cada umadelas tinha para se apreciar.

 Diante de tal demonstração de “conhecimento do assunto”, apsicóloga me fez uma pergunta que mudou a minha vida, "Qual câmera quevocê usa?" Eu não consigo precisar o tempo que durou o meu silêncionaquele momento, mas juro que me senti muda por muito tempo.

 Diante da minha falta de resposta, ela percebeu que meuconhecimento não era tão profundo assim, eu nem sequer fazia ideia de queexistiam câmeras fotográficas que pessoas como eu poderia ter, e talvez essafosse realmente a questão, até aquele dia a fotografia para mim se resumia àfoto em si.

 Naquele mesmo dia, eu subi o famoso edifício Av. Central, noLargo da Carioca e me deparei com um mundo maravilhoso (e caro) de equipamentosfotográficos. Eram muitas opções, muitas informações, muitas fotos, minhaconexão foi imediata e não havia dúvidas de que meu próximo investimento seriauma câmera.

 Depois de vários dias de pesquisas (e olha que ainda nãohaviam inventado o Google), eu finalmente saí de uma loja do Edifício AvenidaCentral com minha primeira câmera fotográfica. Uma linda Pentax K1000.

 De lá pra cá, já se foram mais de 30 anos, muitas câmeraspassaram pelas minhas mãos, muitas imagens pela minha cabeça, muitas outrasdescobertas foram feitas, e muitos registros também.

 Mas o mundo da fotografia que eu mais amo, ainda não era omeu mundo. Ainda hoje, a fotografia de decoração, aquelas fotos que tetransportam para uma realidade de sonho (mesmo quando sua parede é de tijolos),ou que se transformam em imensos quadros nas casas de quem não toma “leite tipoC”, ou ainda, que são expostas em restaurantes, hotéis ou nas lojas maissofisticadas,(onde as pessoas como eu geralmente estão sendo observadas pelosegurança), são sempre captadas por profissionais que possuem origem diferenteda minha e principalmente, por profissionais que possuem cor de pele diferenteda minha.

 Felizmente, tenho certeza de que isso é por pouco tempo, asconquistas que o povo da minha cor tem alcançado, são inquestionáveis (talvezpor isso a “casa grande” esteja se armando tanto), estamos a pleno vapor natomada dos espaços, do lugar de fala que nos foram negados, e com a fotografianão será diferente.

Já é uma vitória a crescente presença do povo negro nafotografia de cunho social, aquelas que mostram as diferentes realidades, asque refletem o contraste entre diferentes grupos de pessoas. Fotos essas, quetem um valor imensurável, por denunciar a cruel desigualdade imposta em nossoplaneta, mas essas ocupações de espaços não terminam aqui, falta colocar o meupovo no lugar de onde ele nunca deveria ter saído, na paisagem exuberante dosquadros que transportam pessoas para um lugar de sonho, fotos que representamum presente para os olhos, que retratam a beleza do mundo segundo o ponto devista de quem o fotografa.

 Aquelas fotos de calendário, podem até ser dos Alpes suíços,vitórias régias gigantes, ou praias paradisíacas, mas serão feitas pelo olharde quem, até então, não se via em tais imagens nem como parte da paisagem, nemcomo fotógrafo.

 É nesse momento de contemplação que o cérebro determina oque é belo por natureza. A representatividade do negro nessa paisagem e noolhar de quem fotografa eternizará, nas próximas gerações, a consciência dabeleza que o meu povo possui por essência.


                                                                                                                                Sil Azevedo 

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