O artista plástico Itamar Espinheira, falecido em 24 de abril de 2010, aos 88 anos de idade, com dezenas de exposições individuais e coletivas, com trabalhos pictóricos em mais de 15 museus brasileiros e acervos em galerias, em mãos de colecionadores e da sua família é homenageado pela nossa coluna. A sua última exposição individual em vida foi em novembro do ano passado na Galeria Prova do Artista, de Veranice e Denisson Oliveira, com sucesso de público e crítica especializada.

Itamar tinha 40 anos de vivência com a pintura; inicialmente trabalhava com óleo sobre tela e nos últimos 20 anos com a tinta acrílica. Explorava uma temática da realidade de sua infância no interior da Bahia, cidade de Amargosa, com tipos populares de feiras livres e cenas da vida do campo. Teve como mestre o professor Emidio Magalhães da Escola de Belas Artes. Itamar Espinheira explorava os recursos plásticos do desenho, da pintura, com incursões em vários temas como: natureza morta, marinhas, pescadores entre outros.

Com uma pintura lírica e romântica o saudoso Itamar, na sua serenidade construía plasticamente belas imagens modeladas pela cor. E, num caminho solitário de todo grande artista e numa atmosfera de liberdade criava quadros virtuosos que agradam aos mais dos exigentes olhares. Partiu para a eternidade, mas deixa um exemplo que será cultivado e um legado de experiência e criatividade, agora imortalizado na lembrança e na beleza de suas obras...

Está sendo organizada uma grande exposição retrospectiva de sua obra quando será mostrado trabalhos realizados pouco antes de sua morte e suas principais fases.

Sua filha, a também artista plástica Núbia Espinheira, que herdou a pintura, a inteligência e a sensibilidade de Itamar, assim fala sobre a obra de seu pai em dois momentos distintos. Em 2002, no catálogo da exposição individual do artista no Conjunto Cultural da Caixa Núbia escrevia:

“Itamar Espinheira, baiano de Amargosa, é um mestre da pintura. Desenvolveu, ao longo de mais de 40 anos de atividade artística, a capacidade de transpor sentimento e lirismo para a tela. Os quadros do artista trazem temas ligados ao seu passado, saídos de uma memória de infância, numa harmonia íntima que a realidade parece desconhecer, como se apenas no mundo recriado por ele encontrássemos a chave para compreender a relação com a obra e o público. Para contemplar a pintura de Itamar é necessário ensimesmar-se, adotar uma atitude cerimoniosa, como num ritual em que se consagra o domínio da arte.

As telas de Itamar resgatam o que foi perdido no tempo e enchem os olhos e o espírito dos homens de harmonia e lirismo.”
E agora, quando prestamos esta singela homenagem, Núbia escreve saudosamente:

“O pintor Itamar Espinheira foi um homem que viveu pela e para a arte. Sua dedicação às artes plásticas era comovente e extrapolava os rigores da técnica. A tela com a trama espessa presa ao cedro perfumado lhe estimulava a criar. Era um artista completo, disciplinado, incansável. Inquieto procurava algo inalcançável nas suas composições e, através da paleta de cores que só os mestres ostentam, criava uma atmosfera suspensa no tempo, onde personagens com posturas impecáveis convivam em harmonia e pareciam acreditar num mundo digno.

Assim era o artista Itamar, um obstinado, que nunca se preocupou com a celebridade ou o mercado, mas apenas com a arte. Pode-se dizer que Itamar viveu para criar. Foi um observador atento e, na natureza, nada escapava ao seu olhar, fossem os matizes de verdes ou a coleção de azuis. Um insignificante objeto uma expressão num rosto tudo era pretexto para criar. Não se deixou levar por modismos tinha convicção de ser o que era, isso lhe dava uma existência serena e provocava um bem estar em quem teve o privilégio de viver com ele...”