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Ziraldo por Gabriela Alvarenga Maya - Guia das Artes
Ziraldo por Gabriela Alvarenga Maya
Ziraldo por Gabriela Alvarenga Maya
O artista e sua influência.
inserido em 2020-01-24 19:11:04
Advogada e escritora. Carioca com coração mineiro.
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Conteúdo

 

Ele deitava
e rolava
pintava e bordava
e se empanturrava
de bolo e cocada
E ria
com a boca cheia
e dormia
cansado
no colo da vovó
suspirando de
alegria
E a vovó dizia:
"Esse meu neto
é tão maluquinho”

 

                         

 

Quando fecho meus olhos e penso em minha infância, memórias deliciosas me revisitam. A frase: “ e se empanturrava de bolo e cocada” ressoa até hoje como um dever de casa dos muitos que precisei, assim como você, cumprir para passar de ano. Passei de ano, passei por décadas, já são quatro, passei alegrias e tristezas e lá estava ele; nas minhas reminiscências: O menino Maluquinho do Ziraldo. Depois ele fez parte da vida do meu filho e tenho certeza que fará parte da vida dos meus netos.

Isso me alegra, tanto! A passagem do tempo pela vida dos brasileiros sobre o compasso do Ziraldo. E quando a gente olha para ele? Não é maravilhoso? Aquela carinha de vovô levado e divertido, um cabelinho de mago, um sorriso de elfo. Seria o Ziraldo, este mineiro de Caratinga, um ser da floresta? Eu não me espantaria com isso. Porque vejam, foi Pererê – a revista por ele inventada – a primeira revista em quadrinhos de um  só autor, em cores,  criada no Brasil. As aventuras do nosso Saci Pererê descritas de forma lúdica e inventiva, marca esta que nunca abandona a narrativa do Ziraldo.

Entre quadrinhos, matérias de jornais como O jornal do Brasil, revistas como O Cruzeiro, e o famoso O Pasquim – do qual foi fundador -, O Menino Maluquinho foi mesmo seu maior sucesso editorial. Uma autobiografia? Um jeito de nos contar como ele foi na infância feliz e sossegada de Minas Gerais? Ou a maneira que Ziraldo encontrou de desejar para toda criança brasileira  amor, diversão, alegrias e saúde?

Fui de uma geração Menino Maluquinho. Lançado em 1980, não havia escola no Brasil que não o apresentasse aos seus alunos. Encenamos peças, decoramos trechos ( como este em epígrafe, até hoje fixodo em minhas lembranças), pintamos e desenhamos por milhares de cartolinas, inspirados nos traços do nosso Mago. E por falar nisso... Como se não bastasse nos fazer sorrir com suas histórias, Ziraldo é considerado um dos maiores cartunistas do mundo! E é nosso... Produto interno bruto do Brasil.

Muitos anos depois de decorar este trecho, do qual não paro de escrever, deparei-me com Flicts, que vejam! foi o primeiro livro infantil do Ziraldo, publicado em 1969. O ano era 2005, e a escola do meu filho havia adotado – entre outras obras – este que é no meu humilde entendimento, o mais lindo trabalho do Ziraldo. Comecei a ler com meu filho. Sentados na cama, no centenário ritual de leitura mãe e filho. E Flicts foi me preenchendo em um gesto até então desconhecido: as palavras falavam coisas que as cores nunca tinham podido nos contar. As cores emprestaram para as palavras; sentimentos. O sentimento transbordou... E até hoje não consigo ler Flicts sem derrubar lágrimas.

Você não conhece Flicts?

Ah... Então você não conhece o lado mais bonito do Ziraldo: ele também é filósofo!

 

 

Bio:

Alguns dados sobre Ziraldo –

Nasceu em 24 de Outubro de 1934, Minas Gerais.

Publicou mais de 28 títulos infantis. Vencedor do Nobel de Humor Internacional em 1969. Vencedor do Prêmio Hans Christian Handersen, em 2004. Vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura, em 1980 com o nosso amado Menino Maluqinho. Neste prêmio foi indicado mais vezes.

De suas obras já foram feitas séries, filmes longa metragens, murais, exposições. Ziraldo abriu caminho para outros cartunistas no Brasil, um país que até então não conhecia muito bem esta profissão.

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