Carregando... aguarde
Se eu tivesse uma bola de cristal, ficaria bilionário- Guia das Artes
Se eu tivesse uma bola de cristal, ficaria bilionário
Se eu tivesse uma bola de cristal, ficaria bilionário
inserido em 2018-08-31 20:38:53
Fundador da Galeria de Arte Paiva Frade em São Lourenço - MG ; Fundador da Galeria Ruptura em São Paulo - SP
Veja outras colunas de Alexandre Paiva Frade
Conteúdo
Se eu tivesse uma bola de cristal, ficaria bilionário. 
 
Como se eu pudesse responder, alguns artistas têm entrado em contato comigo, perguntando qual o caminho do sucesso de um artista. Claro que conheço algumas fórmulas, o estilo, o espírito do momento, de inúmeros artistas, usando apenas a releitura da historia. Mas é impossível prever o sucesso que virá. 
 
Por outro lado colecionadores e investidores têm questionado qual o bom artista para se investir. Neste momento de pós modernidade onde as coisas mudam em segundos, prever o que acontecerá com os novos artistas é quase impossível. Alguns colegas galeristas se arriscam, no cumprimento de seu papel ao apontar o próximo nome que terá seus 15 minutos de fama.
 
Me lembro, que na década de 1990, no Rio de Janeiro, reconhecidamente à época Capital Cultural do Brasil, os artistas que compunham o Núcleo Bernardelli e seus contemporâneos eram disputadíssimos, gozando de alta consideração e prestigio. Também os grandes mestres da Escola Nacional de Belas Artes, que alcançavam grandes somas em glamurosos leilões e distintas Galerias de Arte. Nesta época falar de arte era requinte e intelectualidade. A arte não se submetia à decoração e ao gosto dos arquitetos, mas sim ao saber do colecionador. Abrilhantava o projeto como uma pedraria única em uma jóia de ouro.
 
Vi artistas que valiam muito, passarem a valer nada, são vitimas da expressão: “Isso não se usa mais.” - como se a arte não fosse atemporal. E vi artistas, da década de 60, já falecidos, ressurgirem do ostracismo, tornando-se expoentes de grandes disputas e somas, mas já percebo estarem a caminho do ostracismo novamente. Destes ficam dois ou três, como ícones, representantes do momento e de cada movimento especifico, como um marco histórico.
 
Como provenho de uma cidade do interior, convivi com um grupo de artistas, dentre eles havia um que obtivera algum sucesso em vendas na década de 1980. Neste período ele foi um dos artistas consumidos pelos “novos ricos da Barra da Tijuca”. Pintava casinhas bem bonitas, seus quadros vendiam e decoravam bem - eu o percebia como arrogante. Essa palavra vem do Latim: arrogare, a junção de “para” e rogare, “exigir”. Ou seja “o que exige”. Sim, ele exigia o reconhecimento de sua genialidade. Numa cidade pequena, era até aceitável, pois o parâmetro do bom se limitava ao conhecimento do expectador. Assim ele se sentia o mais famoso e prestigiado entre os locais.Com o passar dos anos, tive o privilegio de conviver com os grandes agentes do mercado. Aquela pintura, já não significava nada de tão bom pra mim. Representava o trivial e comum, produzido por uma pessoa comum dotada de fina destreza. Percebi também, que o que eu considerava arrogância, tinha outra denominação, que também provinha do latin:  a junção in “não” e ganrus “aquele que domina o assunto”. Ou seja “ignorante”. Não no sentido pejorativo, mas serve bem para descrever aquele que vivendo no isolamento, cercado de incultos, só poderia ser mais um. 
 
Ao artista, em minha opinião, é necessário vivenciar, viajar e, não desejar que a história, acontecida em outra época com Van Gogh, aconteça romântica e ingenuamente nos dias de hoje. Afinal os tempos são outros. Faz-se necessário,  principalmente deixar de olhar para dentro da “caverna” das universidades no ditame da moda e, tentar vislumbrar o horizonte próprio da liberdade criativa. Se der errado, ao menos um acerto: A tentativa!
 
Casar por exemplo requer comprar ou alugar a moradia, passar a ter um custo de vida muito maior ao de solteiro, trabalhar anos pela formação dos filhos, pagar escola, cursos, faculdade, cuidar e ser cuidado pela esposa. Isso não é um investimento e sim, simples prazer da realização de uma vida. Assim é com a arte, adquirir-la é, sobretudo, um prazer, que provém de nossa condição, frutos dos nossos investimentos. Diversificar é formar uma coleção com a linguagem de seu gosto e senso estético. Só se percebe o valor em ter um barco ou um avião, quando se tem. O mesmo acontece na arte.
 
Pode ser que o reflexo do momento na arte determine alguns artistas que ficarão como ícones deste conturbado momento ou, quem sabe, venhamos a viver ciclicamente uma nova prevalência do belo! 
Como diria Albert Einstein: Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso o universo de cada um, se resume no tamanho de seu saber...
 
Alexandre Paiva Frade
Compartilhe
Comente