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Monteiro Lobato - Guia das Artes
Monteiro Lobato
Monteiro Lobato
“Um país não vale pelo tamanho, nem pela quantidade de habitantes. Vale pelo trabalho que realiza e pela qualidade da sua gente. Ter saúde é a grande qualidade de um povo. Tudo mais vem daí”.
inserido em 2018-04-11 20:23:02
Advogada e escritora. Carioca com coração mineiro.
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“Um país não vale pelo tamanho, nem pela quantidade de habitantes. Vale pelo trabalho que realiza e pela qualidade da sua gente. Ter saúde é a grande qualidade de um povo. Tudo mais vem daí”.

 

Se pudéssemos bater na terra com enormes tambores, precisamente nesta semana, fazendo com que dela pulassem as palavras de Monteiro Lobato como sementes a geminar em nossos pensamentos, nos sentiríamos fortalecidos, sobretudo conscientes e promissores. Curioso que o Abril seja o mês de nascimento deste inesquecível brasileiro. Mais curioso ainda - para não dizer triste – o fato de encontrarmos em seus contos e crônicas, trechos tão atuais cuja essência não foi capaz de despertar o povo brasileiro.

A linguagem caricata que usou para informar à população rural a importância de combater doenças que podem destruir toda a força de trabalho de um povo, demonstrava a facilidade que Monteiro possuía de transitar com vários estilos de ferramentas: coloquial, poética, erudita, como foi em Urupês seu primeiro livro de tiragens sucessivas. Em Jeca Tatu ( personagem que deu ensejo ao termo pejorativo), homem simples e do campo  acometido de preguiça sem fim, torna-se próspero e rico depois do diagnóstico de um médico local: ”  - Amigo Jeca, o que você tem é doença.

                           - Pode ser. Sinto uma canseira sem fim, e dor de cabeça, e uma pontada aqui no peito que responde na cacunda.
                         - Isso mesmo. Você sofre de anquilostomiase

É preciso ler este precioso conto para notar o amor de Monteiro pelo povo brasileiro, pela terra, pela vida abundante que sempre esteve, e ainda está, ao nosso redor.  Nascido em Taubaté, no ano de 1882, em 18 de Abril, neto do Visconde de Tremembé, Monteiro formou-se em Direito aos vinte anos de idade. Logo depois, prestou concurso para o Ministério Público e tornou-se promotor da cidade de Areias em 1907. Talvez deste período tenha nascido sua visão sobre as cidades pequenas relegadas ao abandono cujo conto Cidades Mortas, critica a decadência do Vale do Paraíba e das Fazendas Cafeeiras. Assim segue Lobato descortinando sua visão, ora mordaz noutras lúdica,  do país que amava.

Sua crítica sobre a exposição de Anita Mafaltti, pintora paulista, foi o estopim para a polêmica que deu ensejo ao Movimento Modernista. Neste famoso artigo; Paranoia ou Mistificação, Lobato se refere à pintora com reconhecidos elogios à sua veia artística, porém repudia fortemente o trabalho exposto com influência na temporada que Anita passou nos Estados Unidos e na Alemanha. Compara suas telas e a de outros artistas presentes na exposição, às pinturas e desenhos existentes em manicômios, sendo que estas mais valiosas pela  expressão artística do inconsciente acometido de doenças mentais e as outras; simples caricaturas forjadas.

Finalmente, tomado pelos chamamentos dos gênios invisíveis, Monteiro Lobato já morando no Rio de Janeiro, em 1921 envereda-se no universo infantil com sua obra Reinações de Narizinho, pelo enorme sucesso nas escolas  o escritor da continuidade à obra imortalizando no cenário literário o inesquecível Sítio do Pica-Pau Amarelo. Hoje, penso na conversa que esses ilustres personagens trariam para nossas reflexões:

- Vamos para as ruas, Jeca. – insistiria Emília, a boneca de pano.

- Não paga a pena... – responderia Jeca Tatu cansado e preguiçoso.

- Há que se ter cuidado, Emília, os ânimos andam muito alterados no meio do povo. –diria a doce Vovó Benta.

Finalmente Visconde, com sua eterna sapiência e prudência, interviria:

- Não vamos criar mais melindres Emília.  Imperioso se faz aguardar.

Emília muito contrariada, se emburra, cruza os braços e toma o rosto de biquinho espichado para frente. Narizinho, com o apelo maternal das meninas pelas bonecas, a tranquiliza:

- Não tenha pressa, Emília. Há hora para tudo, vovó tem razão.

- Eu não quero esperar. Estou com a Emília. Vamos para as ruas! – e de posse de um cabo de vassoura, Pedrinho arremeda-se pela sala com o braço em riste como se ergue o mastro de uma bandeira.

O saci, zombeteiro que só, fuma seu cachimbo se ajeitando como pode pelo lado de fora da casa, apegado à janela, pensa: “Mas que luta que nada, a coisa já está resolvida no reino das fábulas”.

Será Monteiro, será que você nos falaria assim? Ou escreveria um de seus artigos mordazes, colocando os pingos nos “ Is” e   como dizem hoje em dia , colocando “ Cada um no seu quadrado” ?

Você faz falta!

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