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Lasar Segall, o Grupo dos Cinco e a literatura. - Guia das Artes
Lasar Segall, o Grupo dos Cinco e a literatura.
Lasar Segall, o Grupo dos Cinco e a literatura.
inserido em 2018-06-13 13:43:03
Advogada e escritora. Carioca com coração mineiro.
Veja outras colunas de Gabriela Alvarenga Maya
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 Você já ouviu falar no Grupo dos Cinco? O Grupo dos cinco da arte moderna brasileira, já ouviu falar?  Melhor assim, não é? Com essa ultima dica, você elimina a ideia de um clube formado por delatores premiados; ”propineiros” ou agentes públicos corruptos. Graças a Deus, esse clube, carinhosamente apelidado por quem viveu no cenário artístico do Brasil no século passado, nasceu do encontro de almas muito especiais: Anita Mafaltti, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Esses artistas, pintores e escritores, marcaram um período ousado da arte brasileira, batizando a Arte Moderna como um marco no ano 1922.

 O que eu me pergunto é, por que este grupo não se chamou grupo dos seis? Pois o sexto elemento – a quem me referirei -  amalgamava dois traços muito fortes dentro de si: as artes plásticas e arte literária. Estou falando de Lasar Segall.

 Para a feitura deste artigo acessei uma infinidade de fontes, infelizmente não pude ir a mais importante delas; o Museu Lasar Segall. O que me surpreende é que nenhuma dessas fontes cita o artista como escritor. A ferramenta de busca mais usada, aqui no Ocidente, o define como: pintor, escultor, gravurista judeu brasileiro. Mas por que não acrescentar ao Lasar, o ofício de escritor? Parece-me tão insensível, para não dizer desonesto, ignorar suas colunas escritas para o Diário Nacional ou para o Jornal das Letras. Sem falar nas cartas, endereçadas a familiares e amigos que deixou na Alemanha, e em seu país de nascimento: a Lituânia.

  E voltando ao Grupo dos Cinco... Dada origem de seus companheiros de geração, creio que somente o estilo de vida daqueles artistas – declaradamente boêmio – foi o fator que descartou, por naturalidade, a presença de Lasar. Ele,  recém-divorciado e agora casado com Jenny Klabin, certamente desfrutava dessa nova união,  muito longe do ateliê de Anita, onde seus amigos atravessavam madrugadas, rindo, bebendo, desenhando e pintando.  Aliás, foi em  companhia de Anita Mafaltti,  que Segall expôs seus trabalhos em São Paulo em 1917, duramente criticados por intelectuais da época. Lasar percebeu – talvez por seu olhar estrangeiro – que não bastava expor o expressionismo; no Brasil pós-guerra era preciso explicar sua arte. Para tanto, começou a escrever ao público, terna e delicadamente, os motivos, contornos, referências mundiais que levaram não só ele, mas também Anita e Tarsila, entre outros, a subverter a arte – conhecida até então como clássica – e acordar a nação brasileira para a realidade.

 É tarefa difícil selecionar trechos dessas cartas, de depoimentos, artigos e até – porque não dizer – desabafos de Segall. No garimpo de algo que elucide o escritor por baixo do artista plástico, escolhi a resposta a uma carta de seu ilustre amigo Kandinsky. A amizade entre os dois, embora separada cronologicamente  por mais de duas gerações, frutificou após um período vivido por ambos na Alemanha. Logo depois, regressando ao Brasil, frequentemente se comunicavam por cartas. Assim, Kandinsky, que já morava na França, escreve ao amigo em 06 de Junho de 1938:

Nunca deixo de me alegrar por não ser político, e sim um pintor. Assim, eu fecho a porta do meu ateliê e o mundo ( o que eles hoje chamam de mundo) desaparece...”

Segall, responde: “ O senhor, caro Kandinsky, é o mais feliz, o senhor tem força para se fechar ao mundo exterior, e, no seu próprio mundo, seu ateliê, dedicar-se com tranquilidade, ao seu trabalho, considerando os problemas da arte como mais importantes do que os fatos  do mundo de hoje, com os quais, todos nós, querendo ou não, estamos estreitamente ligados, e dos quais somos infelizes, como pessoas e como artistas, completamente dependentes.”

 Em Textos, Depoimentos e Exposições de Lasar Segall, livro editado pelo  museu homônimo, é possível nos depararmos com memórias lúdicas, profundas, artísticas e até filosóficas do artista. Como essa em que defende a matriz do Expressionismo: “O expressionismo soube exprimir a verdade interior. O verdadeiro expressionismo traduz suas impressões do visto e do sentido sem tomar em consideração as formas comuns da natureza e a técnica. Mas o expressionista, homem que é, está ligado à terra e não pode portanto sentir formas absolutamente abstratas. Ele não é máquina, ele é homem, ele procura instintivamente o humano na arte, que possa criar uma atmosfera espiritual comum.

 Como disse, escolher um ou dois trechos  escritos pelo pintor  ao longo da vida, torna-se um ato desleal; não só com o artista como para com o garimpeiro. Sugiro passearmos por suas obras, depoimentos, declarações de amor ao Brasil ( não foram poucas), visitarmos o Museu Lasar Segall. Assim, certa de que concordarão comigo, poderemos chamá-lo também de ensaísta, cronista e filósofo brasileiro.

 

Lasar Segall , além de pintor e defensor do Expressionismo, foi  escultor, gravurista, cenógrafo.

Nasceu em 21 de Julho de 1891 em  Vilnius, Lituânia

Faleceu em 2 de Agosto de 1957, em São Paulo, Brasil

 

www.museusegall.org.br

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