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Hemingway, o lobo do Mar - Guia das Artes
Hemingway, o lobo do Mar
Hemingway, o lobo do Mar
inserido em 2018-01-30 19:18:59
Advogada e escritora. Carioca com coração mineiro.
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Queridos leitores,

Antes de tudo, peço desculpas pela ausência nesses últimos meses. Foi um período corrido em que não encontrei a paz necessária para falar de nossos grandes amores; literatura e outras artes. Em Dezembro esbocei um artigo sobre Charles Dickens, afinal, quem mais nos tocaria no mês de Natal, o momento perfeito para falarmos do inglês que através de uma crítica social eternizou o mesquinho Senhor Scrooge.

No entanto, vou deixar Dickens para outra hora. Fui tocada pelo passional Ernest Hemingway e tenho motivos pessoais para isso, porque no final das contas não é possível mergulhar nas águas de seu O Velho e o Mar, sem ter experimentado a imprevidência das marés ou a inconstância dos sentimentos; os dessabores das desilusões, o olhar inexorável da maturidade que a tudo traz certa profundidade. Para gostar de Hemingway é preciso - perdoem os mais novos - um pouco de vivência, quem sabe uma dose extra de amargor, um desses sentimentos que nos soterram em virtude das circunstâncias externas que afetam a nós e os seres que amamos. Ernest Hemingway amava, antes de tudo, a literatura e nela projetou  sua maior razão de viver. Por isso e para isso, perdeu amores e amigos. Tenho aprendido que a escrita é, como toda expressão artística, a volúpia do inconsciente e sendo ela manifestada nesses moldes, sem as algemas que nos prendem aos conceitos de certo e errado, atingirá o objetivo da arte, qual seja: o de despertar o pensamento humano. Creio que a busca de Ernest, era essa; atingir a capacidade de despertar o pensamento alheio com a dureza das palavras. Talvez isso tenha sido por um longo tempo, uma obsessão. O jornalista norte-americano, cronista, recém-casado, escolheu Paris com o intuito de perseguir o sonho de grande escritor, numa época em que os cafés e restaurantes da cidade eram frequentados por ninguém menos do que: Pablo Picasso, Ezra Pound, James Joyce, Scott Fitzgerald, entre outros.  A amizade com escritora Gertrude Stein e sua companheira Alice Toklas, foi sem dúvidas um divisor de águas na vida do escritor, ele encontrou nesta amizade uma fonte de aprimoramento e reinvenção de seu próprio gênero. Gertrude o ajudou a alcançar a robustez de que necessitava para lançar-se no cenário europeu.  As obras de Hemingway se confundem com sua própria vida e chegam a suscitar, muitas vezes, uma repetição metafórica  de si mesmo. Arrogante, ousado,  impetuoso, passional, mas acima de tudo ensimesmado. Autor de frases como:

Não tenho tempo nem disposição para defender a minha escrita” e “Um idealista é um homem que, partindo de que uma rosa cheira melhor do que uma couve, deduz que uma sopa de rosas teria também melhor sabor.” 

Por isso digo que se você não experimentou o caos dentro de si, a dúvida entre amar mais a si do que aos outros, a coragem de assumir a evidência de um lado menos virtuoso,  pode reconhecer o valor desse escritor, mas não vai entendê-lo.  Em Paris é uma festa, ele relata os anos em que viveu na Cidade Luz em companhia de sua primeira esposa Hadley e revela, ao leitor mais astuto, sua disposição para alcançar o arauto do cenário literário onde Simone de Beauvoir, Jean Paul Sartre, Scott Fitzgerald dividiam seus olhares entre cafés ou drinks, nos badalados guetos de Paris. O best-seller Casados com Paris, da romancista Paula McLain, conta a versão de Hadley Richardson, primeira esposa de Hemingway, e sobre esses anos com o autor de Por quem os Sinos Dobram, a transformação de um jovem atraente jornalista no escritor cujo crescimento profissional culminou na separação do casal.

Hemingway se casou quatro vezes, entre temporadas na Espanha – país que visitava recorrentemente porque era fascinado pelas touradas - , na França, e em Cuba onde se instalou ao fim da Segunda Guerra,  imberbe numa cultura totalmente nova se tornou mais uma vez, outro escritor. Escreveu contos que compilados somam dois grandes volumes. Além disso, O Sol também se Levanta, Adeus às Armas, Ter e não Ter, Do outro lado do Rio e Entre as Árvores, O jardim do Éden...entre muitos outros romances e contos.

Repetindo o mesmo gesto de seu pai, se suicidou aos 61 anos, em Ketchum, Idaho. Era hipertenso, diabético, depressivo e já apresentava problemas com a  memória.

De todos os trabalhos, Hemingway é mais conhecido pelo memorável Por Quem os Sinos Dobram, estreado pela icônica Ingrid Bergman. Inspirada pelo filme a Banda Metálica compôs a canção homônima ao romance. Raul Seixas nomeou um de seus álbuns com o mesmo título e se inspirou na obra para compor mais canções como; O Segredo do Universo e Ide a Mim Dadá.

Sua forte personalidade, traço marcante do homem por trás do mito, deu ensejo a uma legião de fãs que o homenagearam mundo a fora com belas esculturas e muitos retratos.

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