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Coluna Arte e Literatura, O ilusionista - Guia das Artes
Coluna Arte e Literatura, O ilusionista
Coluna Arte e Literatura, O ilusionista
A poucas horas para a exibição da oitava temporada de Game of Thrones, percebo o que esteve bem diante do meu nariz: R.R. Martin é um mestre ilusionista.
inserido em 2019-04-15 12:43:56
Advogada e escritora. Carioca com coração mineiro.
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A poucas horas para a exibição da oitava temporada de Game of Thrones, percebo o que esteve bem diante do meu nariz: R.R. Martin é um mestre ilusionista. É possível afirmar que boa parte do planeta, assim como eu, esteja reunindo amigos e familiares –  no mínimo muitas guloseimas – espalhados sobre seus confortáveis sofás ou nas mesas de pubs, a fim de acompanhar a Guerra dos Sete Reinos. Eu mesma não passarei por isso desacompanhada de um copo com wuisky.

E por que Martin é um mestre ilusionista, não apenas um grande escritor, best seller?

Simples. Seja em tempo real, nas exibições das temporadas ou à espera de novos episódios, o mundo em que vivemos e suas crueldades se tornam mais digeríveis para nós embebidos nesta fantasia. Se Donald Trump e King Jong Un vão ou não celebrar um acordo de paz, se o último relatório das Nações Unidas revela um aumento de mortes no Oriente Médio, em relação às décadas passadas, ou se as calotas polares derretem em um prazo muito maior do que o previsto; tudo isso, todas essas tristes realidades – a nós tão difíceis de mudar – nos parecem mais suportáveis enquanto caminhamos pelas ruas de King’s Landing, ou quando tentamos decorar todas as casas saídas da mente de Martin: a Casa Tyrell,  Casa Bolton, Tully, Lannister, Baratheon, Greyjoy, Arryn. O mundo que conhecemos apresenta-se sem graça porque não temos uma Rainha como Daenerys a ordenar Dracarys sobre extremistas que destroem a Síria, e os Primeiros Ministros das monarquias remanescentes aqui do Ocidente se mostram muito estúpidos diante de um Tyrion Lannister. Ah, você não entende este artigo porque nunca assistiu a série, e também não faz questão de comprar os livros de R.R. Martin, você não é do universo Nerd, nem  Geek, muito menos se considera hipster? É, mesmo assim você continua sendo um outsider, outsider da vida que vale a pena. Sim! A fantasia tem um imenso valor para nos manter sãos neste real mundo de hipocrisias descartáveis.

Então você é daqueles que têm mais o que fazer do que assistir à séries sobre dragões e feiticeiras ressuscitando homens, e perder tempo com zumbis caminhantes é para adolescentes... Ok! Você é um trabalhador!

Então vamos falar do que você; outsider trabalhador desconhece: ao assinar um contrato milionário com a HBO ( canal que produz e exibe a série inspirada em seus livros: As Crônicas de Gelo e Fogo), o autor deu um salto para a história; a série é vista em mais de 170  países, com a produção mais cara da tv mundial. Os quatro principais atores da série ( Emilia Clark, Lena Headey, Peter Dinklead e Nikolaj Coster-Waldau) recebem por episódio cerca de 300 mil dólares. A abertura da série,  tem dez versões para cada edição; uma produtora comandada por Angus Wall, leva três meses para elaborar o material. Já pensou nos empregos gerados? A equipe de produtores e diretores, preparadores de elenco, editores e figurinistas é composta por mil e trezentos profissionais, isso sem falar no número de figurantes de cada episódio, que é variável. A sexta temporada, por exemplo, foi filmada em cinco países. Para ter uma ideia do número de empregos gerados por GOT, uma batalha referente à sexta temporada, contou com 500 figurantes. Estima-se que esses figurantes sejam contratados no país onde a cena está sendo gravada.  Já pensaram nos empregos por trás da fantasia de George Martin?   

Os primeiros episódios de GOT, abreviação de Game of Thrones, custaram 6 milhões de dólares, já a última temporada da série com data de estréia para 14 de Abril, às 22:00 hs., horário de Brasília, gastou nada mais, nada menos, do que 15 milhões de dólares por episódio. Em poucas horas saberemos o que George R. Martin reservou para o futuro de seus personagens, os amados e odiados, porque no jogo dos tronos é tudo ou nada. Quanto à influência do autor nas duas últimas temporadas da série, há quem diga que pouco se sabe, pois os roteiristas Bryan Cogman, D.B. Weiss e Dave Hill, que dizem não ler as críticas sobre o roteiro da série, acrescentaram cenas e enredos que diferem do texto original de George Martin. Além disso, a série termina antes da obra original porque Martin ainda não publicou o último livro de suas crônicas. E os roteiristas se valem da  chamada obra aberta.

Há quem se rebele. Os fãs antigos dos livros de R.R. Martin se insurgem contra certas artimanhas dos roteiristas que com o fito de dar cabo à série, correm com cenas narradas nos livros e suprimidas ao grande público. Sem falar nas barbáries que segundo contam, o autor não cometeu no texto original. A verdade é que GOT é um fenômeno ao redor do mundo. Até o ano de 2018, a indústria dos Funko Pop ( bonecos de vinil que reproduzem figuras e personagens famosos) produziu 40 personagens em 50 diferentes versões.

São 19:55 do dia 14 de Abril. Estou contando as horas para acompanhar o destino destes inesquecíveis personagens. E enquanto desconheço certas injustiças que serão cometidas, enquanto não assisto as mortes de seres fantásticos - não posso dar spoiler para quem não conhece a série-, me destino a homenagear este grande escritor, que certamente, ao escrever essa série de livros, tão rica em cenários, personagens, tramas e estratégias de guerra, jamais imaginou alcançar não só muitos povos como também, muitas gerações. Está claro; George R. R. Martin entrou para  a história. É o Victor Hugo dos tempos modernos.

 

Biografia: George R.R. Martin é norte-americano e nasceu 20 de Setembro de 1948, em Beyonne, Nova Jersey. Filho de um estivador e uma doméstica. Leitor ávido de histórias em quadrinhos, na infância viveu com a família em conjuntos habitacionais construídos pelo governo para abrigar famílias humildes. Hoje, é considerado uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.

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