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Cervantes, eterno semeador das artes - Guia das Artes
Cervantes, eterno semeador das artes
Cervantes, eterno semeador das artes
Sabe aquela frase clichê “Minha vida daria um livro”? Pois então saiba que a vida de Miguel de Cervantes, foi uma dessas. Quando decidi trazer para a nossa coluna o mítico Don Quixote, não imaginava que me surpreenderia tanto com a trajetória de Cervantes
inserido em 2017-08-22 11:59:23
Advogada e escritora. Carioca com coração mineiro.
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Nosso herói nasceu em Alcalá de Henares, trinta e três quilômetros a nordeste de Madri, em Setembro de 1547. Não se sabe muito bem o motivo que o levou a um exílio forçado e por isso Cervantes se mudou para Roma, em 1569,  onde trabalhou como assistente da câmara de um cardeal, nesta oportunidade, concentrando sua atenção na arte renascentista. Posteriormente, em 1571 alistou-se no serviço militar espanhol num posto da infantaria da Marinha Espanhola, na cidade de Nápoles ( por conta de uma possessão espanhola na Itália). Até  1575 lutou pela Coroa Espanhola e a na embarcação batizada de Marquesa, levou três tiros;dois no peito e outro em seu braço esquerdo, inutilizando-o permanentemente. No entanto, Cervantes sentia-se orgulho do feito, pois havia participado da guerra que derrotou a frota otomana no dia 7 de outubro na Batalha de Lepanto, no Golfo de Patras. A aventura do Príncipe dos  Moinhos não parou por aí: Cervantes foi capturado por piratas otomanos  na costa catalã, tempos depois,levado para Argel, que seria depois, uma das cidades mais cosmopolitas do Império Otomano. Foi mantido  em cativeiro durante cinco anos, só obtendo a liberdade através de um resgate pago por sua família, com quem voltou a viver em  Madri. Em Don Quixote, como também em A Vida em Argel e  Los baños de Argel, Cervantes se utiliza de sua experiência para descrever o cárcere de seus personagens.Sua trajetória seria marcada, anos depois, por mais uma privação de liberdade na Espanha, quando “por má gestão de recursos” foi preso em Sevilha, em 1597. Foi nascendo então a persona de Don Quixote, um cavaleiro idoso que tencionava mostrar a seu companheiro Sancho Pança a necessidade de reparar injustiças:

Modificar o mundo, amigo Sancho, não é nem utopia e nem loucura, é questão de justiça.”

Tempos depois, o idioma castelhano foi batizado de Língua de Cervantes. Sigmund Freud afirmou ter aprendido espanhol motivado pelo desejo de ler, tão somente, a saga do Cavaleiro.Em 2002 Dom Quixote de La Manchafoi  agraciado na Noruega com o Prêmio de Maior Obra de ficção da história. Teve, até hoje, mais de 700 edições, três filmes, cinco montagens de ballet, dez versões diferentes em ópera, um musical ( Man of La Mancha), inspirou Salvador Dalí e Picasso com a produção de telas magníficas, milhares de esculturas pelo mundo e o melhor de tudo: Quixote nos inspira até hoje!É, talvez, o maior patrimônio cultural da Espanha. Depois vieram Goya,  Dalí e Picasso, Gaudí, Almodóvar e toda a sua filmografia. Mas Don Quijote, que me perdoem as fãs de Antônio Bandeiras, é sem dúvidas “O Cara” dos espanhóis. Se você já foi à Espanha vai saber disso inexoravelmente! Principalmente se tiver a sorte de passar pela região de La Mancha onde os moinhos de vento, todos eles, parecem nos dizer que o profeta passou por lá. Por favor leitor, não estigmatize meu texto, chamo Cervantes de profeta porque sua obra além de atemporal é filosofal. Pergunto-me:de quê material era feito Miguel de Cervantes? Porque um personagem como Don Quixote, possuí um tipo de poder que não se extingue com o passar do tempo e seu companheiro, Sancho Pança – antagonista que Cervantes usou para contradizer seu idealismo – são modelos dos quais a humanidade se alimenta diariamente. Cervantes sabia que sempre teremos os realistas para nos chamar, muitas vezes aos berros, do incrível mundo das ideologias. Veja, o livro conta a história de um nobre fidalgo espanhol que de tanto ler perde a razão. Curioso, não? Ainda mais quando sabemos que os críticos contemporâneos da obra, a classificavam de paródia de bom humor enquanto que os críticos do século XVIII dobraram-se em elogios e premiações que hoje inserem Don Quixote de La Mancha na lista de melhores do mundo.

Cervantes faleceu um ano após a publicação da segunda parte de Don Quixote de La Mancha. Pouco antes de sua morte, foi surpreendido com uma falsa versão da última parte de seu Cavaleiro Solitário, sendo brevemente desmascarado o falso autor. Em 26 de Abril de 1616, coincidentemente na mesma data de outro não menos importante dramaturgo e escritor inglês William Shakespeare, morreu o pai de Don Quixote em Madri, consagrado em sua terra e finalmente gozando do prestígio merecido.

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