Entre raízes e delírios: um convite à arte brasileira
Há obras que gritam. Outras que sussurram. Algumas nos atravessam como um relâmpago — por sua matéria, sua cor, seu silêncio. As peças que se apresentam nesta semana não pedem atenção: elas a impõem.
Frans Krajcberg, por exemplo, não esculpe. Ele extrai da natureza uma denúncia.
“Raízes” (c. 2000) é mais do que escultura — é sobrevivência. Uma estrutura espinhosa, vermelha como brasa, emergindo das entranhas da terra. Um organismo em fúria, que lembra que cada árvore caída carrega um grito calado. A madeira queimada e pigmentada guarda memória de incêndios reais e simbólicos. Krajcberg ergue a arte como resistência.
Lorenzato nos leva para um tempo suspenso.
“Casario com Varal” (1978) exala simplicidade — mas é pura construção. O jogo de planos, as casas que se desdobram geometricamente, o varal colorido flutuando como bandeiras de um cotidiano sereno. Ali, o popular se torna poesia. O banal se ilumina.
Ianelli, ainda figurativo em 1951, pinta o mar como quem sussurra.
Em sua “Marinha”, a paisagem se desfaz em gestos. A montanha surge como uma miragem firme, as águas ondulam em tons discretos. O que seria apenas um recorte da costa se transforma num estado de espírito.
Já Anita Malfatti, mesmo em uma natureza-morta, vibra como se estivesse viva.
“Flores” é um campo de energia, onde pétalas e sombras duelam. A cor, carregada, quase expressionista. Anita não pinta flores. Ela as provoca.
José Antonio da Silva e Chico da Silva, cada qual com sua linguagem, desenham mundos próprios.
Silva nos entrega jangadas gigantes e pescadores mágicos, numa cena onde o real e o encantado se confundem.
Chico nos mergulha numa selva de bichos tecidos, de cores delirantes, de olhos que nos observam de volta.
E então, há o gesto último de Burle Marx:
Sua gravura “Abstrato” pulsa em blocos de cor como se projetasse um jardim sinfônico. Tudo é ritmo e intenção. Sua serigrafia é arquitetura sensível — uma coreografia de formas.
Essas obras não estão apenas em museus — estão acessíveis agora, em leilões que acontecem nesta semana. Se a arte te chamou, siga o chamado:
Veja os catálogos completos:
Errol Flynn Galeria de Arte – 08/07 às 19h30
Crivo Galeria de Arte – 08/07 às 20h
Selum Leilões – 10/07 às 20h30
Quem coleciona arte, coleciona tempo. E tempo bom é aquele em que a beleza nos inquieta.