Brasil na Bienal de Veneza 2026: Diane Lima, Rosana Paulino e Adriana Varejão ocupam o Pavilhão do Brasil
Lide: A Fundação Bienal de São Paulo confirmou a participação do Brasil na 61ª Exposição Internacional de Arte — La Biennale di Venezia (9 de maio a 22 de novembro de 2026), com a mostra Comigo ninguém pode, curada por Diane Lima e protagonizada por Rosana Paulino e Adriana Varejão. O projeto articula proteção, toxicidade e resiliência como metáforas para reabrir feridas coloniais e reinscrever histórias a partir de perspectivas femininas.

O anúncio e o escopo
A representação brasileira será apresentada pela Fundação Bienal de São Paulo no Pavilhão do Brasil, nos Giardini (Veneza). A comissária é Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal. A seleção do projeto segue o modelo adotado desde 2023, com comissão formada por Ministério da Cultura, Ministério das Relações Exteriores e Fundação Bienal de São Paulo, ampliando transparência e participação.
O conceito: “Comigo ninguém pode”
Tomando a planta popularmente conhecida como “comigo-ninguém-pode” como imagem-guia, a curadoria propõe um jogo entre cuidado e perigo, defesa e veneno, cicatriz e metamorfose. A metáfora desloca-se do natural para o social: quando o “comigo” vira “nós”, a sabedoria coletiva vira soberania, e a memória — mesmo quando dolorida — converte-se em projeto de futuro.
“Paulino e Varejão representam historicamente o que há de mais revolucionário quando se fala da presença das mulheres na arte nacional”, afirma Diane Lima.
As artistas e o diálogo inédito
Adriana Varejão (Rio de Janeiro, 1964) explora a violência da história a partir de peles pictóricas, azulejos e fraturas arquitetônicas, tensionando colonialidade e corpo.
Rosana Paulino (São Paulo, 1967) investiga memória, arquivo e reparação, muitas vezes atualizando procedimentos de costura, gravura e montagem como políticas do sensível.
“Meu trabalho e o de Rosana se cruzam na potência das feridas coloniais”, diz Varejão.
“Esse encontro propõe uma revisão do cânone e recupera memórias silenciadas”, afirma Paulino.
A mostra prevê consonâncias e fricções entre trajetórias distintas, somando alto rigor técnico a uma leitura crítica de gênero, raça e história. O próprio pavilhão entra como matéria — espaço a ser ativado pela obra.
A curadora: Diane Lima
Nascida em Mundo Novo (BA, 1986), Diane Lima é curadora e pesquisadora, reconhecida por conduzir debates estruturantes sobre raça, gênero e anticolonialidade no Brasil e na América Latina. Integra o conselho consultivo científico da documenta/Museum Fridericianum (Alemanha) e assinou projetos como coreografias do impossível (35ª Bienal de São Paulo), Paulo Nazareth: Luzia (Museo Tamayo) e a 3ª Trienal Frestas. É autora e organizadora da antologia Negros na Piscina (2024).
Pavilhão do Brasil: restauro e atualização (2024–2026)
Em paralelo ao projeto curatorial, a Fundação Bienal conduz a recuperação do edifício do Pavilhão do Brasil — propriedade do Itamaraty, em articulação com o MinC. As obras incluem restauro arquitetônico, atualização de infraestrutura, acessibilidade e adequações técnicas para grandes exposições, elevando os padrões de conservação e recepção de público.
A 61ª Bienal de Veneza: “In Minor Keys”
A edição de 2026 adota o tema In Minor Keys, e será conduzida pelo coletivo formado por Gabe Beckhurst Feijoo, Marie Helene Pereira, Rasha Salti, Siddhartha Mitter e Rory Tsapayi, selecionados pela curadora Koyo Kouoh(falecida em 2025). Em sintonia com essa pauta, o Brasil apresenta um projeto que enfatiza polifonias, escalas minoritárias e modulações de memória.
Por que isso importa (para quem acompanha a Bienal de São Paulo)
Continuidade crítica: ecoa e expande os debates da 35ª Bienal de SP no circuito global.
Protagonismo feminino: duas artistas fundamentais sob a curadoria de uma das principais vozes do país.
Infraestrutura renovada: pavilhão brasileiro modernizado para experiências museológicas à altura do debate.
Interlocução internacional: alinha a produção brasileira às discussões sobre colonialidade, arquivo e reparaçãoem escala global.
Serviço (salve esta seção)
Exposição: Comigo ninguém pode
Evento: 61ª Exposição Internacional de Arte — La Biennale di Venezia
Local: Pavilhão do Brasil, Giardini Napoleonici di Castello, Padiglione Brasile, 30122, Veneza, Itália
Comissária: Andrea Pinheiro (Fundação Bienal de São Paulo)
Curadoria: Diane Lima
Artistas: Adriana Varejão e Rosana Paulino
Datas: 9 de maio a 22 de novembro de 2026
Pré-abertura: 6 a 8 de maio de 2026
Sobre a Fundação Bienal de São Paulo
Instituição privada sem fins lucrativos fundada em 1962, responsável pela Bienal de São Paulo e pela produção das representações brasileiras nas bienais de Veneza (arte e arquitetura). Além das exposições, preserva o Arquivo Histórico Wanda Svevo e administra o Pavilhão Ciccillo Matarazzo (Oscar Niemeyer), tombado pelo patrimônio histórico.
Conclusão
Ao reunir Diane Lima, Rosana Paulino e Adriana Varejão no Pavilhão do Brasil — agora renovado —, o país consolida uma participação que soma densidade histórica, rigor formal e relevância política. Em 2026, a presença brasileira em Veneza promete ir além da representação: é um gesto de reinscrição e imaginação coletiva no mapa da arte contemporânea.







