Art Basel 2025: o que os resultados da feira revelam sobre o mercado de arte brasileiro
A edição de 2025 da Art Basel em Basileia confirmou mais uma vez seu papel de termômetro do mercado internacional de arte contemporânea. Com mais de 88 mil visitantes, 289 galerias de 42 países e vendas multimilionárias registradas já nos primeiros dias, a feira sinalizou confiança renovada em artistas consagrados e reafirmou a predominância de circuitos globais centrados nos Estados Unidos e na Europa.
Para o Brasil, observar a Art Basel é mais do que acompanhar os movimentos do alto mercado: é também uma oportunidade de entender em que medida artistas, galerias e instituições nacionais conseguem ocupar espaço nesse cenário de visibilidade global.
Resultados em perspectiva: os números da edição de 2025
De acordo com estimativas compiladas de fontes como Artsy, Artnet, ARTnews e Swissinfo, o volume total de vendas da Art Basel 2025 superou os US$ 375 milhões, com ao menos 14 obras vendidas acima de US$ 5 milhões. As vendas de destaque incluíram nomes como:
David Hockney, com a obra Mid November Tunnel (2006), vendida por até US$ 17 milhões.
Mark Bradford, com duas pinturas vendidas por US$ 3,5 milhões cada.
Louise Bourgeois, com esculturas alcançando US$ 1 milhão.
Ruth Asawa, cuja escultura foi negociada por US$ 9,5 milhões.
Os resultados confirmam a resiliência do setor de alta renda, mesmo diante de uma retração global de 12% no mercado de arte em 2024 (segundo relatório UBS & Art Basel).
Tendências de mercado: foco em estabilidade e nomes consagrados
O comportamento dos colecionadores este ano refletiu uma tendência à cautela. Obras de artistas estabelecidos lideraram as transações, com menor apetite por apostas emergentes ou linguagens mais experimentais.
Além disso, observou-se:
Um recuo da presença americana, possivelmente impactada por incertezas políticas e econômicas.
Um crescimento da presença de compradores jovens e de regiões como Ásia e Oriente Médio.
Um interesse crescente por obras com qualidade museológica e chancela institucional sólida.
Tecnologia, imersão e experiências sensoriais
A Art Basel 2025 também destacou a integração entre arte e inovação. A instalação ArtCube, desenvolvida pela Samsung, foi um dos destaques da área Unlimited, combinando grandes telas digitais, sensores interativos e obras de artistas contemporâneos. A presença de figuras como RM (BTS) em conversas sobre arte digital também exemplificou o diálogo ampliado com públicos fora do circuito tradicional.
Presença brasileira: visibilidade comedida, porém estratégica
Galerias brasileiras mantiveram presença em número estável na feira, com ao menos três participações no núcleo principal. Ainda que quantitativamente modesta, essa presença tem sido construída com consistência por algumas galerias já consolidadas internacionalmente, como Fortes D’Aloia & Gabriel, Mendes Wood DM e A Gentil Carioca.
Artistas brasileiros também estiveram presentes representados por galerias internacionais — estratégia comum e eficaz para ampliar inserção global.
Alguns artistas brasileiros na Art Basel (2015–2025): visibilidade seletiva e consagrada
Ao longo da última década, a participação brasileira na Art Basel tem sido marcada por recorrência de artistas com forte chancela institucional e sólida presença no circuito internacional. Alguns nomes têm figurado com regularidade, especialmente em edições como Basileia e Miami Beach.
Beatriz Milhazes
- Representada por White Cube e Mendes Wood DM.
- Presença constante com grandes pinturas e colagens.
- Obras frequentemente vendidas acima de US$ 500 mil.
Vik Muniz
- Representado por Nara Roesler e Sikkema Jenkins.
- Presença em Miami e pontualmente em Basileia.
- Fotografias com preços entre US$ 60 mil e US$ 150 mil.
Tunga
- Pós-2016, ganhou espaço em mostras curatoriais e seções especiais.
- Obras escultóricas com valores entre US$ 100 mil e US$ 1 milhão.
Ernesto Neto
- Presença em Miami e Hong Kong.
- Instalações sensoriais e esculturas têxteis.
- Preços variam entre US$ 300 mil e US$ 750 mil.
Adriana Varejão
- Representada por Fortes D’Aloia & Gabriel e, mais recentemente, pela Gagosian.
- Obras que mesclam barroco, crítica e técnica refinada.
Lygia Pape e Lygia Clark (espólios)
- Fortemente presentes em seções históricas e institucionalizadas.
- Obras com valores entre US$ 250 mil e US$ 2 milhões.
Ainda que esporádicos, outros nomes emergentes brasileiros também marcaram presença em seções como Statements, como Maxwell Alexandre, Paulo Nazareth e Luiz Roque — normalmente via galerias estrangeiras ou consórcios internacionais.
Mercado nacional: crescimento seletivo, mas abaixo da média global
Enquanto a Art Basel reporta recordes pontuais, o mercado de arte brasileiro como um todo experimentou um cenário mais cauteloso em 2024 e início de 2025. Estimativas preliminares indicam uma retração de aproximadamente 3,5% no volume de vendas, com impacto mais significativo sobre o segmento intermediário.
Por outro lado, o setor de leilões de arte brasileira apresentou relativa estabilidade, especialmente em nichos como arte moderna, concretismo e obras sacras — segmentos de interesse de colecionadores mais tradicionais.
Reflexões e próximos passos
A participação do Brasil na Art Basel pode não ser ampla em números, mas demonstra um certo grau de maturidade e estratégia entre as galerias que conseguiram consolidar atuação internacional. A predominância de nomes consagrados também sugere que, para acessar o circuito global em momentos de retração, credenciais institucionais e consistência de carreira são diferenciais decisivos.
A médio prazo, iniciativas que fortaleçam redes regionais, feiras de médio porte e articulações institucionais — como a participação em bienais, museus e residências internacionais — podem contribuir para ampliar a inserção de artistas brasileiros em plataformas como a Art Basel.
A observação atenta dessas dinâmicas pode auxiliar não apenas galeristas e curadores, mas também formuladores de políticas públicas voltadas à economia criativa e ao soft power cultural.