Filho de europeus, mas carioca de nascença, o artista residiu boa parte de sua vida em
Niterói. Sua paixão pela Cidade Maravilhosa é observada em todo o acervo
exposto. Das 47 telas que serão exibidas, 43 retratam a Baía da Guanabara,
contempladas entre as décadas de 1930 a 1950, a partir da terra de Araribóia.
A curadoria é de Evandro Carneiro. Destacam-se as pinturas da Baía da
Guanabara com o Corcovado e o Pão de Açúcar ao fundo, bem como os crepúsculos
avermelhados sobre a topografia carioca.
A mostra será aberta ao público SEM VERNISSAGE devido à pandemia, durante o horário de
visitação da galeria, de segunda a sábado, das 10h às 19h.
O shopping Gávea Trade Center está funcionando
com obrigatoriedade do uso de máscaras e fornece álcool em gel e medição de
temperatura para quem entra. Não há necessidade de agendar a visita, pois o
espaço é grande e sem aglomerações.
Sobre o artista:
FRANCISCO
COCULILO: A REPETIÇÃO E A REINVENÇÃO DA PAISAGEM CARIOCA
Francisco Coculilo nasceu no Rio
de Janeiro em 13 de fevereiro de 1893. Filho de europeus, seus pais haviam
chegado ao Brasil com os primeiros imigrantes que aportaram aqui desde a
proclamação da República, quatro anos antes. Escolheu o Rio de Janeiro para
residência fixa, mas a Revolta da Armada, no fim daquele ano, fez com que o
pequenino Francesco, antes de completar um ano, se mudasse para o outro lado da
baía. Junto com o endereço, o artista mudou também seu nome: do original
italiano Francesco Coculichi, passou a ser conhecido como Francisco Coculilo.
Foi aluno do pintor catalão Luis
Graner Y Arrufi no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, quando o mesmo
esteve por aqui entre viagens à América do Sul, de 1927 a 1929. Granner teve em
Coculilo seu único pupilo brasileiro e ambos se dedicaram principalmente à
paisagem de valor iconográfico.
Adulto, o artista fixou
residência em Niterói, na Vila Pereira Carneiro 24, na Ponta da Areia, local
que sempre foi um dos principais pontos escolhidos por artistas plásticos.
Sylvio Pinto, Pancetti e Aluízio Valle foram apenas alguns dos nomes que
eternizaram aquela humilde vila de operários, mas que possui o charme peculiar
de uma das vistas mais bonitas do planeta.
Coculilo se notabilizou entre os
anos 1930 e 50 por retratar a paisagem iconográfica do Rio de Janeiro, a partir
Niterói. É provável que ninguém tenha apreciado mais essa vista do que ele que
a pintou exaustivamente. A repetição paisagística na obra de Francisco Coculilo
é uma característica típica e parte de uma experiência sensorial com os elementos
da composição. Quando a percebemos quase obsessivamente em seus quadros, nem
sempre atentamos para o fato de que o pintor buscava uma equação entre os
elementos da pintura para descobrir o produto real diante de apenas uma
constante: a Baía de Guanabara. Estudando-a sob as diversas variações
luminosas, descobria as várias possibilidades que um mesmo espaço pode conter e
fornecer ao artista. Não a mesma paisagem, mas sempre uma outra perspectiva do
natural. Afinal, quando a natureza é transferida para um suporte, está sofrendo
uma transformação em sua essência. Na representação não há somente aquilo que o
pintor vê, mas coexiste nessa percepção uma interferência que transfere ao
objeto a transvaloração de si mesmo. Nesta intenção, o olhar do pintor se renova
e aperfeiçoa o que mira, limpando a topografia daquilo que julga ser
incorreções, tornando mais belo o cenário em que repousa.
Esta volta do olhar sobre os
mesmos motivos pode parecer monótona ao espectador viciado na velocidade
moderna e representa o retorno constante do pintor ao mesmo cenário em dias e
horas diferentes, tal qual a experiência monetiana com a catedral de Rouen.
Coculilo retrata uma paisagem onde o homem está apenas insinuado na pintura,
através da cidade que cintila à distância, dos pequenos barcos pousados como
nuvens sobre a superfície da baía. O artista soma ao conjunto de elementos
observados uma harmonia que insistia em buscar e, ao repeti-la continuadas
vezes, é como se integrasse a natureza a uma sinfonia que não cansa aos ouvidos,
servindo de música ambiente aos temas que desenvolve, completando a criação
daquilo que ela está destituída. Pretensão? Cabe ao espectador formar sua
opinião. Verdadeiro? Com a mais absoluta certeza.
Essa exposição contém uma pequena
amostra da produção desse surpreendente artista que olhou o Rio como poucos e o
pintou como ninguém. Desde as pinceladas criticáveis de Francisco no início dos
anos 1920, ao seu amadurecimento artístico, cujo ápice se deu em meados dos
anos 1940 e início dos 50, as suas paisagens juntavam no mesmo horizonte
elementos topográficos impossíveis de conviver em uma mesma vista.
Já maduro, Coculilo vendia suas
telas em frente ao Copacabana Palace, no auge da efervescência turística e do
glamour que o bairro representava para o imaginário mundial nos anos 1950.
Graças a isso, grande parte de sua obra correu o mundo pelas mãos de milhares
de turistas anônimos que visitaram a Cidade Maravilhosa no pós-guerra. Até hoje
é comum encontrar suas paisagens na Europa e nos Estados Unidos, tendo essa
origem algumas das peças dessa coleção.
O acervo exposto foi sendo
adquirido cuidadosamente desde o ano de 2005 e, ironicamente, o fator que mais
chamou a atenção para o início desse colecionismo não foi estético ou
pictórico, mas sim antropológico: o olhar curioso do artista quanto à recriação
da paisagem, o viés “cenográfico” de Coculilo que, assim como os cenários das
produções cinematográficas da era de ouro do cinema, criou uma realidade
modificada e aperfeiçoada em seus quadros, como um pano de fundo no qual nenhum
detalhe que possa diminuir a paisagem deve ser retratado, seus pontos fortes
devem ser exaltados e, quando necessário, modificados e acrescidos de um
detalhe que valorize a própria criação da natureza.
Hoje, quase 50 anos após sua
morte, seu espaço entre os grandes paisagistas brasileiros está marcado, não
como o melhor ou como o mais virtuoso, mas, com certeza, como um pintor que foi
extremamente honesto com sua pintura, fiel à sua paleta e notoriamente sincero
em suas pinceladas. Um pintor que amou o Rio e Niterói, e eternizou a Baia de
Guanabara como poucos. Faleceu em 9 de julho de 1971, injustamente esquecido no
Instituto de Pneumologia de Niterói, e essa exposição é uma das maneiras de
lembrá-lo, apresentando 47 telas do pintor.
Bruno Perpétuo
Setembro de 2020.
Serviço: EXPOSIÇÃO FRANCISCO COCULILO: A REPETIÇÃO E A REINVENÇÃO DA
PAISAGEM CARIOCA
Galeria Evandro
Carneiro Arte: Rua Marquês de São Vicente, 124 (Shopping Gávea Trade Center).
Salas 108 e 109.
De 26 de setembro
a 20 de outubro de 2020.
Visitação: de
segunda a sábado, das 10h às 19h.
Telefone: (21)
2227.6894
Estacionamento no
local.
Site: http://www.evandrocarneiroarte.com.br/
Instagram:
@galeriaevandrocarneiro
+55 (21) 2227-6894