O caminho para a construção da sensibilidade de cada indivíduo tem suas curvas particulares, trechos especiais e trilhas variadas. Seja no diálogo consigo mesmo, ou na vida em sociedade, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade deu pistas dessa jornada íntima que inspirou a montagem de Havemos de Amanhecer, de João Paulo Lorenzon.
O autor e diretor explica que não se trata de uma montagem sobre a biografia do poeta e suas obras, mas de um passeio pelos poemas O Elefante e A Máquina do Mundo.
O primeiro texto traz a viagem de um homem que se fantasia de elefante e sai para procurar amigos. “É uma jornada mais existencialista na qual a figura dialoga consigo mesma e tenta se relacionar com o mundo exterior.” Ele explica que, apesar de toda beleza e entusiasmo, o personagem fica perambulando por ter dificuldades de se comunicar. “É um eu lírico que reflete o nosso problema de dialogar uns com os outros”, conta ainda Lorenzon.
No palco habitado por seres com máscaras de elefante, a montagem também ganha a corporeidade dos movimentos da dança. “Aqui, há uma reviravolta”, diz. Um grupo de mulheres assume o lugar encarnando as forças da natureza, como o vento e as tempestades. O elefante também se concretiza numa escultura de arame e uma montanha de pétalas despenca sobre as bailarinas, em referência à grandiosidade encontrada por Drummond em “uma estrada de Minas, pedregosa”. “É uma forma de criar paisagens que descrevam esse percurso de descoberta de si mesmo.”