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Obra de arte saqueada por nazistas é devolvida a herdeiro de homem judeu - Guia das Artes
Obra de arte saqueada por nazistas é devolvida a herdeiro de homem judeu
Obra de arte saqueada por nazistas é devolvida a herdeiro de homem judeu
Em uma parede branca vazia em um escritório de advocacia de Jerusalém, uma obra de arte impressionista pendurada guarda 80 anos de tragédia, conflito, mistério e redenção.
inserido em 2017-04-07 14:43:11
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O quadro "Basket Weavers", de Max Liebermann, está pronto para retornar aos herdeiros americanos de seu proprietário original, judeu, depois que foi confiscado pelos nazistas, vendido por um comerciante inescrupuloso e, finalmente, comprado por um sobrevivente do Holocausto israelense que desconhecia o seu passado obscuro.

Depois de uma negociação marcada pelas emoções, a valiosa tela agora está sendo enviada aos Estados Unidos, em um acordo que o advogado envolvido no trato chamou de uma conclusão apropriada para uma saga que colocou dois sobreviventes do Holocausto um contra o outro — e expôs uma das persistentes feridas da campanha alemã para aniquilar os judeus da Europa e roubar seus pertences.

Meir Heller, o advogado de Jerusalém cujo cliente israelense insiste em manter seu anonimato, disse que ambos ficaram aliviados por finalmente terem fechado este círculo histórico.

— Este não era um caso legal que eu queria ganhar porque não seria uma vitória para qualquer um dos lados ou para os interesses do povo judeu — disse Heller.

— Estou feliz por termos chegado a um acordo com todas as emoções e todas as bagagens envolvidas.

O advogado Peter Toren, com sede em Washington, disse que seu pai David, de 91 anos, estava ansioso para receber a pintura, mas classificou a situação como "agridoce", uma vez que o idoso se tornou cego e não poderá desfrutar da sua beleza.

— Ele vive de emoções mistas, porque ele ainda abriga, compreensivelmente, muito ressentimento e raiva para com os alemães — contou Toren. — Uma pintura certamente não pode compensar isso.

A história começou em 1939, quando o rico industrial judeu e colecionador de arte David Friedmann foi forçado a fugir e os nazistas saquearam a vasta coleção que ele deixou para trás. Muitos dos trabalhos terminaram nas mãos de Hildebrand Gurlitt, um notório negociante de arte alemão que vendia o que os nazistas chamavam de arte degenerada — obras consideradas inferiores por serem não-alemãs, judias ou comunistas ou, como é o caso dos impressionistas e de outras obras modernistas, não empregavam formas tradicionalmente realistas — mas estavam satisfeitos em vender para ajudar a financiar sua máquina de guerra.

A maior parte da coleção de Gurlitt permaneceu escondida por décadas, e especialistas temiam que as peças teriam sido perdidas ou destruídas. Mas em uma descoberta chocante, uma vasta horda ressurgiu em 2012, quando as autoridades alemãs invadiram um apartamento de Munique pertencente a seu filho Cornelius enquanto o investigavam por evasão fiscal.

Pinturas de artistas como Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir e Henri Matisse foram descobertas. Cornelius Gurlitt disse que tinha herdado muito da arte de seu pai.

O recluso Cornelius Gurlitt manteve mais de 1.200 obras em seu apartamento em Munique e mais 250 em Salzburgo, na Áustria. A descoberta jogou uma nova luz para os muitos casos não resolvidos de peças de arte saqueadas de judeus que nunca foram devolvidas aos proprietários originais ou seus descendentes.

— Quando há um plano para o genocídio, então é O.K. roubar e saquear. Existe um completo desrespeito por quaisquer direitos individuais — disse Yehudit Shendar, uma vice-diretora aposentada do Museu do Holocausto Yad Vashem em Jerusalém. — Toda a questão do roubo de arte está diretamente relacionada com o fato de que seus proprietários estavam destinados à destruição.

Ela disse que os quase 1.500 itens de Gurlitt, estimados em 1,3 bilhão de euros (R$ 4,34 bilhão), representam apenas uma fração da arte saqueada. Cornelius Gurlitt morreu em 2014 aos 81 anos, designando o suíço Museu de Belas Artes de Berna como seu único herdeiro.

Contudo, como em muitos casos de restituição, as reivindicações dos herdeiros pela restituição da arte saqueada levaram a conflitos com os atuais proprietários. A Alemanha até criou um órgão especial, conhecido como a Comissão Limbach, para mediar disputas de propriedade.

Por conta deste processo complexo de determinação da posse, e porque tão poucos descendentes diretos das vítimas permanecem para reivindicar sua propriedade, apenas cinco peças da coleção de Gurlitt foram devolvidos até agora aos descendentes de seus proprietários judeus.

Um deles foi "Two Riders on the Beach", de Liebermann, que foi destinado para o sobrinho de Friedmann, David Toren, de Nova York, que junto com seu irmão foram os únicos membros da família a sobreviverem ao Holocausto. Ele mais tarde vendeu a pintura por US$ 2,5 milhões.

A recuperação levou Toren, o advogado sediado em Washington, a procurar outra pintura de Liebermann que ele lembrava, retratando cinco meninos holandeses tecendo cestos de palha. A busca levou-o a acreditar que "Basket Weavers" tinha tomado seu caminho para Israel e ele fez um pedido público para tê-lo devolvido.

A busca chegou a um homem israelense que tinha resistido aos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e tinha feito doações generosas a companheiros sobreviventes desde então. Para seu horror, o homem descobriu que a pintura que havia comprado em um leilão de Berlim em 2000 por 130 mil euros (cerca de R$ 434 mil) foi a que os nazistas saquearam de Friedman.

Foi quando o israelense aproximou-se de Heller para devolver a pintura aos seus legítimos donos.

— Isso causou nele uma grande agitação. Ele não conseguia sequer olhar para ela

— lembra Heller.

O caso teve uma virada surpreendente no ano passado, quando o israelense contatou Peter Toren, e ficou profundamente ofendido por insinuações de que ele tinha conhecimento das origens das imagens. Heller conta que seu cliente se recusou a devolver a pintura até que recebesse um pedido de desculpas.

Um compromisso foi alcançado: um pedido de desculpas seria feito, o cliente de Heller seria compensado e os rendimentos seriam doados para ajudar os sobreviventes carentes.

Peter Toren disse que está atualmente focado em processar o governo alemão para reaver outras 52 pinturas que ele diz terem sido saqueadas, com base em um inventário detalhado que adquiriu e que foi compilado por um especialista nazista em 1942.

Enquanto isso, ele diz estar ansioso para ver o quadro de Liebermann pendurado novamente nas paredes de sua família.

— É muito especial ter algo tangível que você possa olhar e pensar que isto foi uma posse da minha família e está carregada de história — conclui Toren.

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