A figura de Alberto Ginastera paira sobre a música clássica argentina como a de Heitor Villa-Lobos sobre a brasileira, não só pelo renome desses compositores, como também por semelhanças entre suas obras.
Ambos beberam na fonte do folclore de seus países e souberam misturar essa influência popular com as vanguardas internacionais de suas épocas, sem esquecer a tradição que vinha desde Bach.
Agora, um tema do compositor argentino, "Estancia", ganhará coreografia do Grupo Corpo. A companhia brasileira foi convidada pelo regente da Filarmônica de Los Angeles, Gustavo Dudamel, para traduzir a música do argentino em dança.
Ginastera é de uma geração posterior à do brasileiro e foi mais longe em suas explorações musicais e temáticas. Um bom exemplo é a ópera “Bomarzo”, de 1967, que trazia técnicas avançadas de composição e um conteúdo sexual que a levou a ser censurada, naquele mesmo ano, no Teatro Colón. Foi considerada imprópria pelo presidente militar em exercício, Juan Carlos Onganía, que pregava valores familiares. Essa cruzada conservadora, levada às artes, fez com que a ópera só fosse estrear na Argentina em 1972, quando ele já havia deixado o poder.
Ainda hoje, 36 anos após a a morte do compositor, seu nome é bastante presente na programação argentina, incluindo caonjuntos que o homenageiam, como o Coro Alberto Ginastera ou o Trio Ginastera. No cenário internacional, ele costuma ser citado como um dos grandes da “música latino-americana”, esse curioso amálgama geomusical. No entanto, os grandes da música americano-europeia ainda o programam com parcimônia, atendo-se a “Estância” e a seu concerto para harpa.
Efemérides sempre movimentam o cenário clássico, e, há quatro anos, Ginastera se beneficiou desse fenômeno. Graças ao centenário de seu nascimento, suas obras ganharam projeção. O festival BBC Proms aproveitou que também era o ano da Olimpíada no Brasil e colocou nosso Villa-Lobos em destaque junto com Ginastera. Orquestras importantes como a Sinfônica de Boston e a Filarmônica de Berlim tocaram criações do argentino.
No caso dessa última, contou a atuação de um paladino desse repertório, o regente espanhol Juanjo Mena, que está gravando, pelo selo Chandos, uma série de CDs com a música orquestral de seu ídolo. À revista “Gramophone”, ele lamentou que essas obras sejam “raramente ouvidas em concertos europeus”.
Quando surge uma dessas oportunidades, o que o público encontra é um compositor dono de uma linguagem muito original e de uma instrumentação criativa, que vale conhecer.