Um muralista italiano em São Paulo
A obra de Bramante Buffoni moveu-se sobre diversos suportes e escalas. Entre a pintura, as artes gráficas, a cenografia, a decoração de interiores e o muralismo, o artista italiano realizou a maior parte de sua obra em São Paulo, onde fixou moradia no início da década de 1950.
Destacam-se, nessa trajetória diversificada, as muitas marcas que Buffoni deixou na configuração moderna da paisagem paulistana com os painéis artísticos presentes em edifícios – de autoria de arquitetos também italianos, que se estabeleceram aqui no mesmo período –, como é o caso das galerias na área central da cidade. Nesse sentido, a produção do artista pode ser considerada precursora das intervenções que cada vez mais ocupam nossas ruas.
A exposição reafirma o eixo curatorial da Casa Modernista – reconhecido legado desse movimento estético ao patrimônio nacional, e que em breve será restaurado – no sentido de resgatar a memória e incentivar a reflexão sobre a produção moderna na capital paulista.
Com curadoria da pesquisadora Patricia Freitas, a mostra traz ao público um conjunto expressivo da diversificada trajetória de Buffoni, em sua representativa atuação como artista moderno que dialoga com a cidade e a indústria.
Marcos Cartum
Diretor
Departamento dos Museus Municipais
Museu da Cidade de São Paulo
A carreira de Bramante Buffoni (1912-1989), em todo o seu trajeto, exemplifica uma mudança no estatuto do artista na era pós-Revolução Industrial. Nas primeiras décadas do século 20 era comum que novas linguagens artísticas se desenvolvessem não apenas nos campos da pintura e da escultura, mas também na produção de ilustrações, cartazes, murais, cenografias, tapeçarias, entre outras técnicas.
O entendimento de uma modernidade ampliada incentivou a formação de artistas múltiplos, interessados nas relações entre arte, cidade e indústria. Alinhado com esses propósitos, Buffoni entendia-se como um desenhista, não no sentido canônico do termo, mas em seu sentido moderno. Projetava um cartaz comercial com o mesmo espírito de um mural decorativo. Ambos contribuíam para uma experiência de vida moderna.
O conjunto de obras aqui exposto nos dá a dimensão dos diversos meios de atuação de Buffoni, tanto na Itália como no Brasil. No térreo estão as produções em artes gráficas, suas participações em feiras e mostras milanesas, como as Trienais, e sua profícua produção de cartazes para a Olivetti e a Pirelli. Já no primeiro andar estão contempladas as produções murais do artista em São Paulo, desde os projetos residenciais até as galerias comerciais do centro da cidade. Neste ponto, destacam-se as importantes relações que Buffoni construiu no ambiente ítalo-paulista dos anos de 1950, aproximando-se de nomes como Pietro Maria Bardi, Giancarlo Palanti, Giuseppe Scapinelli e Francisco Matarazzo Sobrinho. A apresentação geral dos trabalhos de Buffoni – até então inédita no Brasil – permite-nos observar os processos de construção de sentido utilizados pelo artista, seus caminhos para explorar diferentes suportes e como ele criou um alfabeto próprio, com o qual se comunicou em diferentes idiomas.
Patricia de Freitas
Curadora
Serviço:
Buffoni, desenhos para a modernidade
Casa Modernista | Museu da Cidade de São Paulo
R. Santa Cruz, 325 – Vila Mariana, São Paulo – SP (próximo à estação Santa Cruz do metrô)
18 de setembro de 2021 a 24 de abril de 2022
Terça a sexta, das 10h às 16h. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h.
Entrada gratuita, sem necessidade de agendamento ou retirada de ingresso.
Obrigatório o uso de máscara.
Serviço educativo disponível.
Fonte: Museu da Cidade